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O respeito pelo mistério

Deus não tem que nos explicar seus caminhos.
Ponderando sobre as regras de Deus para as questões humanas, devemos evitar dois erros comuns.

Embora a bondade de Deus possa, às vezes, ser claramente discernida na história, outras vezes as causas dos eventos podem estar escondidas. Isto faz com que alguns imaginem que os assuntos humanos transitam na confusa esfera do acaso, enquanto outros falam como se Deus estivesse se divertindo, sacudindo a humanidade para cima e para baixo como uma bola.

Os cristãos, por sua vez, crêem que as deliberações de Deus estão de acordo com um motivo maior. Em todos os eventos seu propósito é também testar a paciência do seu povo, corrigir a sua imoralidade, domar a sua devassidão, reforçar a sua autonegação, movê-lo da inércia – ou perturbar o orgulho e combater os planos do inimigo da nossa fé.
 
Não importa o quanto suas razões específicas possam escapar à nossa percepção, podemos estar certos de que as razões estão nEle. Então, podemos exclamar como Davi: “Senhor meu Deus! Quantas maravilhas tens feito! Não se pode relatar os planos que preparaste para nós! Eu queria proclamá-los e anunciá-los, mas são por demais numerosos!” (Salmos 40.5).

Dito isto, devemos também notar como Cristo declara que há algo mais nos desígnios de seu Pai do que meramente o desejo de nos castigar. Pois ele diz sobre o homem cego de nascimento: “Nem ele nem seus pais pecaram, mas isto aconteceu para que a obra de Deus se manifestasse na vida dele” (João 9:3). Cristo declara que, se tivéssemos uma visão clara, poderíamos constatar, mesmo neste caso, que a glória de seu Pai é brilhantemente revelada. Logo, não podemos compelir Deus a prestar contas de seus caminhos, mas em humildade, respeitar seus juízos secretos.

Por outro lado, quando surge este assunto, muitos expõem tolices monstruosas. Eles sujeitam as obras de Deus ao seu próprio raciocínio, presumindo conhecer os juízos secretos de Deus e fazem um julgamento prematuro de coisas que são extremamente misteriosas. O que pode ser mais irracional do que insultar os juízos eternos de Deus? Não é de se estranhar que tantos hoje em dia levantem-se contra a doutrina da orientação divina, ou a ataquem com suas injúrias.
 
Nós, cristãos, somos justamente criticados por não estarmos cumprindo os mandamentos de Deus, nos quais a vontade dEle é compreendida de forma mais clara, e não simplesmente sustentando que o mundo seja governado por um Deus sábio.

Certamente, até mesmo na Lei e no Evangelho, encontramos mistérios que transcendem a nossa capacidade de compreensão. Quando, porém, Deus ilumina nossas mentes com a sabedoria do alto, eles não são mais um abismo, mas um caminho no qual podemos andar com segurança – uma lâmpada para guiar nossos pés, uma escola da verdade, clara e certa. Mas a admirável maneira que Deus usa para governar o mundo é justamente chamada de abismo porque, enquanto estiver escondida de nós, é para ser reverentemente adorada.

Dizia Agostinho: “Assim como não conhecemos da melhor maneira todas as coisas que Deus faz a nosso respeito, devemos, com boa intenção, agir de acordo com a Lei”. Deus dá a Si mesmo o direito de governar o mundo, seja, então, a nossa lei a humildade e a submissão para aceitarmos sua suprema autoridade. Esta é a única regra de justiça e a mais perfeita causa de todas as coisas – a ilimitada providência dominante, da qual nada flui que não seja correto, embora as razões possam ser ocultas.

Por João Calvino
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Cristianismo de Hoje

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