Mais de 2 milhões de pessoas foram às ruas no último dia 15 de março, todas se dizendo cansadas não só da presidente Dilma Rousseff e do seu partido, o PT, mas sobretudo revoltadas com a corrupção.
Desmascarados por recentes operações da Polícia Federal (PF), como a Lava Jato e a Zelotes, os escândalos envolvendo gente graúda parece colocar a corrupção distante nós. Seria correto esse raciocínio?
Para alguns especialistas em comportamento e políticas públicas consultados pelo Brasil Post, não. Embora grande parcela da população não perceba, as pequenas infrações que todos cometemos diariamente, desde possuir carteirinha de estudante falsa, não dar nota fiscal ou colar em uma prova, são o que as unem com os grandes empresários e a classe política envolvida em esquemas: a sensação de impunidade.
“Essas pequenas ações, como andar na contramão ou comprar DVD pirata, ao meu ver estão embutidas na forma de se comportar do brasileiro, no senso da impunidade. Há uma certeza de que esses pequenos atos não vão gerar punição.
Essa desvirtuação acompanha a pessoa também em cargos públicos, e acaba que ela age dessa mesma maneira, com o pensamento do ‘jeitinho’”, analisou ao Brasil Post o secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco.
A tese de doutorado da psicóloga Nanci Fonseca Gomes na Universidade de São Paulo (USP) vai de encontro à mesma opinião. Intitulada ‘A Conduta Moral na Administração Pública: Um Estudo com Ocupantes de Cargos Comissionados’, a pesquisa mostrou que a própria estrutura de poder no Brasil em nada ajuda na lisura da conduta de servidores públicos, quando estes optem por não seguir o caminho mais ético.
“Tanto a formação social como a estrutura pública facilitam a corrupção. Vivemos em uma sociedade que deforma as pessoas em vários aspectos, os quais fazem com que muitas delas se tornem pessoas não cívicas, voltadas para elas mesmas.
Na moralidade existem vários aspectos para explicar como as pessoas são ou não mais firmes para incidirem na corrupção, como compaixão, senso de justiça, senso crítico, resistência à violência, responsabilidade, alienação e consciência”, explicou.
Desde 2013, a Controladoria-Geral da União (CGU) divulga nas redes sociais uma campanha chamada ‘Pequenas Corrupções – Diga Não’, voltada justamente para conscientizar a sociedade que, antes de cobrar atitudes éticas da classe política e empresarial (as grandes vilãs nos maiores escândalos de corrupção no Brasil hoje), é preciso evitar os ‘jeitinhos’ diários.
“A nossa ideia é mostrar que, na essência, muitas das atitudes que a gente condena na esfera política e governamental, elas são muito iguais àquelas atitudes que a gente aceita na nossa vida privada.
Tem uma semelhança muito grande na essência, o que muda é o grau de repercussão que aquela atitude vai ter na vida das pessoas”, comentou a assessora da CGU, Gisele Maeda, em entrevista à TV Brasil.
Só a educação salva
O caminho para uma real percepção disso ainda será longo. Segundo uma pesquisa feita em 2012 pelo Instituto Vox Populi, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), apontou que um em cada quatro brasileiros (25%) não vê o suborno de um guarda como corrupção, enquanto 35% dos entrevistados não veem como corrupção atitudes como a sonegação de impostos.
Naturalmente, ações corruptas não devem ser aceitas, sejam elas pequenas, médias ou grandes. “Temos que combater a impunidade em todos os níveis. É ela quem realimenta a corrupção.
Se a punição for baixa, a pessoa vai incidir no crime (...). Há quem diga que comprar um CD pirata é bem diferente de assaltar os cofres da Petrobras. É diferente no montante e na gravidade, mas parte da mesma sensação de impunidade”, disse Castello Branco.
Na teoria, um cidadão mais bem formado desde a base, com acesso à educação e cidadania, também será um gestor mais propenso, por exemplo, a evitar loteamentos políticos – uma das teses encampadas por organizações como o Transparência Brasil quando se fala em corrupção no País – e, consequentemente, o inchado do Estado brasileiro (a União tem hoje 39 ministérios, mas há Estados como SP com 25 secretarias, um número igualmente alto).
Nanci vai na mesma linha. “Uma coisa importante é que falamos muito de corrupção como causa, mas ela na verdade é consequência da nossa moralidade hoje, da estrutura pública que temos. Se não mexer nela, se não trabalhar com as pessoas, na formação delas, será difícil mudar”, opinou a psicóloga.
informação Brasil Post
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