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Não acredita em Deus? Tenha filhos

Há um ano descobríamos que a nossa filha tinha algo além de asma. Nas primeiras horas, após tomar todas, comecei uma faxina na casa, daquelas de arrastar móvel e tudo. 

Eu nem imaginava que ali começava uma verdadeira faxina existencial, a partir da qual eu teria a oportunidade de rescrever minha historinha como mãe, profissional, esposa... Como humana.

Deus, na gravidez da Vitória, não me deu a mão... Ele me carregou no colo. Desde então tenho a honra de sentir a sua presença constante, nos melhores e piores momentos, o que era bastante inusitado para alguém que tinha com Ele um relacionamento distante.

Primeiro, tinha algumas dúvidas quanto à Sua existência. Depois, vieram as dúvidas quanto a ser merecedora do que eu implorava. Ai chega uma força imensa, capaz de te erguer do chão, de secar suas lágrimas e de organizar o seu pensamento: fé.

Eu achava que não tinha fé e hoje vejo que, se não tivesse, talvez minha filha não estivesse aqui; talvez eu ainda estivesse em um emprego no qual a doença dela era tratada como bobagem; talvez eu fosse um daqueles humanos que se deixam engolir pelas dificuldades e pela tristeza, que levam uma vida nublada e botam a culpa na chuva.

Peguei o laudo da tomografia da Vitória e fiquei naquela: abro ou não abro? Abri no trânsito e, quando comecei a ler, tive que estacionar para chorar sem colocar em risco a vida dos transeuntes. Liguei pra uma amiga, pra pneumologista... E pirei. Pirei de uma forma que até olhar pra Vivi me doía.

Eu achava que ela não tinha nada! Eu achava que nada poderia acontecer com ela. Aliás, porque justo com ela? E daí aprendi que qualquer coisa pode acontecer com qualquer um de nós. Por que? Não sei... Só sei que é assim #ChicóFeelings

Na ocasião, postei no Insta: "Fiz um requerimento a Deus e me dei o direito de dar uma sofrida para, então, cuidar da minha filha com a alegria e força de sempre".

Um ano depois, digo a vocês, amigos queridos: Ele deferiu. Ele não só disponibilizou ferramentas para cuidar da doença da Vitória (uma pneumologista incrível; uma fisioterapeuta incrível; remédios que poderiam não fazer efeito, mas fazem; uma menina que poderia ter atraso no crescimento, mas cresce; uma menina que poderia sofrer com agitação e falta de apetite, mas dorme como um anjo e se alimenta como um trabalhador da construção civil), como também, sem que eu pedisse, me deu uma nova vida. Mas ela não veio embrulhada para presente, com um laço de fita e um bilhete escrito "Enjoy".

Ela veio com a descoberta de que a minha filha tem uma doença descrita como grave, sem cura e sem tratamento; com meses de assédio moral no trabalho; com uma demissão injusta e ilegal... Enfim, com aquela sensação terrível de ver a vida desmoronando.

E assim, mesmo com inúmeros fatos atestando que a vida não é uma pracinha, sendo o maior deles, atualmente, não ter mais uma carreira definida, minha filha canta, saudável, aqui do lado.

Embora ainda esteja meio em branco (porque 365 dias não foram suficientes para completar a autorreforma ou porque começo revoluções a partir da minha cama todas as noites #OasisFeelings), os dias têm terminado bem #LucianaMeloFeelings.

Deus (o acaso, o destino, o que você quiser) controla o mundo; mas a sua vontade é só sua. Tragédias pessoais não são privilegio meu nem seu. Toda criatura carrega uma cruz imensa, mas junto da tal cruz estão alguns opcionais, às vezes de fábrica, às vezes adquiridos à medida que a quilometragem aumenta: resiliência, verve e fé.

Então... Não acredita em Deus? Tenha filhos.





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