Pesquisa da CNBB traz revelações sobre “falta de fé”
Segundo o jornal O Estado de São Paulo, o crescimento no número de ateus no Brasil preocupa a liderança da Igreja Católica. Dados de um levantamento, revelados durante a 54.ª Assembleia-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que está ocorrendo em Aparecida (SP), mostram que 8,9% da população se declararia ateísta.
O último número oficial sobre os brasileiros que se afirmam ser “sem religião” é de 7,9%, do Censo de 2010. Segundo a CNBB, a proporção subiu para 8,9% em 2014. Talvez por falta de informação (ou má fé), o Estado afirma que esses “sem religião” são ateus. Na verdade, segundo o IBGE, em 2010, os ateus e agnósticos somavam apenas 740.000 de uma população de 190 milhões de pessoas (0,39%).
Uma vez que os dados da CNBB não estão disponíveis para o público, certamente o aumento foi no número dos “sem religião”, algo já previsto por estudiosos das religiões no país. Na verdade, seguiria uma tendência mundial. Isso não significa que a pessoa não creia em Deus, apenas não se identifica com nenhuma forma de religião organizada.
Seja como for, o bispo de Santo André, dom Pedro Cipollini, da Comissão de Doutrina e Fé da CNBB, atribui essa situação como efeito de um pluralismo religioso cada vez maior. “Durante 400 anos, todo mundo no Brasil era obrigado a ser católico, como mostra a história. Hoje vivemos um regime democrático também na religião e é natural que, com mais opções, haja uma distribuição”, declarou.
Segundo os bispos católicos, o ateísmo brasileiro não é agressivo ao ponto de fazer campanha contra quem acredita em Deus. Obviamente, ele desconhece o crescente número de campanhas nas redes sociais contra a religião, sobretudo contra os evangélicos.
Dom Pedro Cipollini reconhece, contudo, que esse aumento pode ser um fruto direto da “ideologia marxista” que tomou conta da educação no Brasil nos últimos anos. Promovida pelo partido que ora ocupa o poder, não é permitido que se fale em Deus no processo educacional.
“Vivemos num estado laicista, que é deletério, porque proíbe falar de Deus, que é elemento constitutivo da natureza humana”, critica. Ele conta que há casos emblemáticos, como uma creche que, por ter um quadro de Jesus, foi ameaçada de perder a subvenção da prefeitura.
Para o líder católico, “Se não fizermos nada, vai ser proibido falar em religião e não se pode educar uma pessoa sem falar no aspecto religioso.”
Questão filosófica
Já dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre (RS), atribui a queda no número de católicos às mudanças no conceito de família e as sucessivas campanhas pelo respeito às diferenças. Essa é outra bandeira de viés marxista bastante forte nas campanhas oficiais do governo.
A coordenadora do programa de pós-graduação em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), Irene Dias de Oliveira, defende que o ateísmo contemporâneo “reflete mais que uma negação de Deus”. Trata-se de “uma insatisfação da pessoa pelo Deus que lhe foi pregado ou apresentado”.
Conclui então que essa forma de ateísmo tenta justificar-se mais em problemas sociais, culturais e históricos do que em uma contestação consciente e profunda de Deus.
“O ateísmo contemporâneo poderia sugerir também a insatisfação ou a impotência de algumas pessoas em não encontrar respostas ‘adequadas’ e cientificamente satisfatórias a uma pergunta sobre a existência de Deus, o mal e o sofrimento dos inocentes”, assevera a especialista.
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