Investigação da Europol revela que jihadistas apostam na internet para não desaparecer
Os militantes do Estado Islâmico estão desenvolvendo sua própria plataforma de rede social. Preocupado em fugir das repressões de segurança das redes existentes, eles procuram divulgar suas comunicações e propaganda de outra maneira, explica o líder do Serviço Europeu de Polícia (Europol).
O diretor da Europol, Rob Wainwright, revelou que a nova plataforma online foi descoberta durante uma operação de 48 horas contra extremismo na internet, realizada na semana passada.
“Dentro dessa operação foi revelado que o Estado Islâmico está desenvolvendo sua própria plataforma de rede social, sua própria parte da internet, para divulgar sua agenda ideológica”, disse Wainwright em uma conferência de segurança em Londres. “Isso mostra que alguns membros do EI, pelo menos, continuam inovando nesse espaço”.
Durante uma ação coordenada pela Europol contra o Estado Islâmico e a Al Qaeda, que envolveu agentes dos Estados Unidos, Bélgica, Grécia, Polônia e Portugal, mais de 2 mil perfis de extremistas foram identificados, hospedados em 52 plataformas de rede social.
Nos últimos anos, os jihadistas usaram frequentemente as redes sociais convencionais para comunicações online. Além de difundir seus atos terroristas e execuções no Youtube, usaram redes abertas como o Twitter e fechadas, como canais privados do aplicativo de mensagens Telegram.
Companhias de tecnologia, como Facebook e Google, vem sofrendo uma pressão crescente para fazer mais para impedir a divulgação de material extremista on-line e tornar mais difícil que grupos como o Estado Islâmico se comuniquem por meio de serviços criptografados, evitando detecção por serviços de segurança.
Entretanto, Wainwright disse que o Estado Islâmico, ao criar seu próprio serviço, está tentando encontrar uma saída. Eles sabem do trabalho conjunto de agências de inteligência, forças policiais e ao setor de tecnologia para detectar seus passos no mundo digital.
“Nós certamente fizemos que fosse muito mais difícil para eles operarem nesse espaço, mas ainda estamos vendo a publicação desses vídeos horríveis, e comunicação sendo distribuída em grande escala por toda a internet”, disse Wainwright, acrescentando que não sabe se tecnicamente será mais difícil derrubar a própria plataforma do Estado Islâmico.
Com as crescentes derrotas no Iraque e na Síria e seu califado tendo chegado ao fim no Oriente Médio, especialistas alertam que o Estado Islâmico continuará se multiplicando ao gerar células radicais em outros países. A maneira mais fácil deles não desaparecerem e manter seus ideais vivos é justamente usando a internet.
Para Wainwright, atualmente a Europa está enfrentando “a maior ameaça terrorista dessa geração”.
Rede preferida
Para especialistas consultados pela BBC, o objetivo principal do uso das redes é popularizar o grupo entre pessoas que vivem longe do Oriente Médio e estimular os chamados lone wolves (em inglês, lobos solitários, ou pessoas que simpatizam com ideias do grupo, mas não fazem parte de sua estrutura formal) a entrarem em ação isoladamente em seus países.
Um artigo publicado no “auge” do EI ressalta a percepção sobre a importância do Twitter para os jihadistas. Em The ISIS Twitter Census [Censo do Estado Islâmico no Twitter], pesquisadores do Brooking Institute mapearam 46 mil contas ligadas ao EI na rede social.
Três em cada quatro dos perfis usam o árabe como idioma principal; um em cada cinco preferem o inglês. Havia também alguns poucos em português. A grande maioria das contas mapeadas pelo estudo estava hospedada no Iraque, na Síria e na Arábia Saudita. Houve alguns registros no Ocidente – três contas na França, uma no Reino Unido, uma na Bélgica e duas no Brasil.
“O uso da rede social visa espalhar propaganda e recados para todo o mundo, além de pescar pessoas vulneráveis ao radicalismo”, diz o artigo, que destaca ser difícil identificar provas concretas de recrutamento por esse meio.
Com informações Reuters
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