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Heranças quebradas

Parece que estamos sempre mais prontos a imitar o que faz mal.
É impressionante como nós, seres humanos, somos capazes de adquirir, desenvolver e dar continuidade, na vida, a atitudes, comportamentos e ações que sabemos que não são boas e não fazem bem a ninguém. São cargas que fizeram e ainda fazem mal àqueles que vieram anters de nós – e que, naturalmente, nos prejudicam. 

É comum encontrarmos nos antecedentes de uma pessoa comportamentos que passam a ser repetidos de geração em geração. Em psicologia, este tipo de coisa recebe o nome de repetição. Já em algumas linhas teológicas, acredita-se que tais comportamentos e práticas são resultado da ação de demônios que iriam passando de pai para filho como um gene maligno, processo que recebe o nome de maldição familiar. 

De fato, encontramos famílias nas quais casos de alcoolismo, prostituição, descompromisso com a vida, autoritarismo e vários tipos de desvios e agressões que o indivíduo pratica si mesmo e contra o outro vão se repetindo, de geração em geração.

Parece que estamos mais prontos a imitar o que faz mal, ao invés de levar adiante a herança de comportamentos que fazem bem. Encontramos isso na Bíblia. Abraão e sua descendência são um bom exemplo. 

A trajetória dessa família está narrada no Gênesis. Certa vez, Abraão mentiu: com medo de ser morto, negou que a bela Sara era sua mulher. Tempos depois, seu filho, Isaque, fez a mesma coisa, como que “herdando” o medo do pai. Ele também mentiu e negou que Rebeca era sua mulher. Jacó, já na terceira geração, enganou o próprio pai, fazendo-se passar por seu irmão para receber a benção prometida por Isaque. 

E José, filho de Jacó, mentiu quando reencontrou seus irmãos, fingindo não reconhecê-los em um primeiro momento. Felizmente, a mentira de José durou pouco, porque ele mesmo se encarregou de confessar a verdade – e, no momento em que o fez, aquela maldição familiar de sucessivas mentiras foi quebrada, como uma corrente quando um dos elos se desprende do outro e não existe mais conexão do passado com o presente.

Muitas pessoas tomam posição como vítimas desse tipo de elo. Já que nasceram em uma família na qual as coisas não dão certo há várias gerações – seja a harmonia conjugal, a situação financeira, a saúde física e emocional –, repetem a sina, como que destinadas a dar sequência à repetição do mal. Não é assim. Podemos interromper a continuidade do que foi aprendido e ou herdado. 

Na vida adulta, é possível avaliar todos os valores, atitudes e ações que, de alguma forma, foram transmitidos, através de palavras ou comportamento, por aqueles que foram responsáveis pela criação e educação daquele indivíduo. Com a maturidade emocional, pode-se escolher aquilo que deve ser continuado e perpetuado e o que pode – e deve – ser abandonado.

Da mesma forma, o indivíduo consciente pode analisar tudo o que faz, identificar o mal que pode ser eliminado e despender todos os recursos possíveis para que seja banido da própria vida e da existência de seus descendentes. Ter sido vítima dos erros ou da maldade de outros não condena ninguém, necessariamente, a perpetuá-los ao longo de sua existência. 

Qualquer um pode sair do papel de vítima de alguém que, muitas vezes, também foi vitimado por outrem, tornando-se protagonista de si mesmo e dando nova direção à própria vida. Claro que há muitas situações em que o processo de rever o que foi recebido de pais, avós ou responsáveis pode ser difícil e dolorido. 

Ainda assim, ninguém deve desistir dessa tarefa, por mais dolorosa e sofrida que possa ser. A capacidade de jogar fora todo e qualquer lixo recebido, mesmo que oriundo de quem tenha tido a melhor das intenções, faz da pessoa um ser liberto, capaz de viver de acordo com suas escolhas e responsável por si mesmo.

Em Cristo Jesus, podemos encontrar mais força e coragem para, se necessário, mudar o roteiro de nossa vida. O Senhor é aquele que nos capacita a restaurar nosso espírito, nossa alma e nossas emoções. Pedro, um dos discípulos de Jesus, escreveu, em uma de suas cartas aos cristãos do primeiro século: 

“Não foi mediante coisas corruptíveis, como prata e ouro, que fostes resgatados do fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue, como de cordeiro se defeito e sem mácula, o sangue de Cristo.”

Cristianismo de hoje

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