O convertido não é o que não peca mais, mas aquele que sabe que é um grande pecador e, por isso, vive quebrantado e dependente de Deus.
Todos nós sabemos que muitas iniciativas começam bem e terminam mal: projetos de vida, casamentos, amizades, relacionamentos familiares, empregos, envolvimento com a igreja etc. E começam bem porque colocamos nosso melhor nessas iniciativas – o amor, a coragem, a perseverança e a esperança, por exemplo.
Por isso, entramos nelas tão entusiasmados, acreditando que vai dar certo, pois são projetos que despertaram o melhor que existe em nós e contagiam os que estão ao nosso redor. Assim, subestimamos outras forças que estão na nossa alma; forças sabotadoras e destrutivas.
Naquele momento de euforia, em que estamos tão mobilizados por algo que iniciamos, acreditamos que o amor, a coragem, a perseverança e a esperança irão prevalecer – e que, portanto, saberemos vencer todas as dificuldades e obstáculos.
O amor, que nos torna bondosos, pacientes, tolerantes e compreensivos com o outro; a coragem, que nos faz enfrentar e superar os riscos e os perigos no caminho; a perseverança, que vence a tentação de desistir e abandonar tudo face às frustações e contrariedades. E a esperança, essa força que nos leva a prosseguir com ânimo revigorado e vence o pessimismo com a convicção de que o amanhã será melhor?
Daí, entendemos porque Jesus Cristo disse: “Sem mim nada podeis fazer”. É a partir de tais virtudes, que são virtudes de Cristo, que surgem as grandes realizações de nossa vida. Jesus é fonte e origem do amor, da coragem, da perseverança e da esperança. É, portanto, ele que desperta o melhor que existe em nós e nos motiva a prosseguir até o fim, apesar dos obstáculos.
Projetos e iniciativas começam bem e terminam mal porque existem outras forças, estas destrutivas e maldosas, que habitam o nosso coração. É o que a Bíblia chama de pecado. Enquanto estamos cheios de amor, coragem, perseverança e esperança, aquelas outras forças permanecem latentes, neutralizadas. Porém, quando surgem as dificuldades, fraquejamos; as virtudes se esvaem, as boas motivações se dissipam. Assim, as outras forças destrutivas começam a tomar lugar no nosso coração e, devagar, nos tornamos desafeiçoados, intolerantes, impacientes, maldosos, desanimados, frustrados, inseguros e sem esperança. Logo, o ressentimento, a agressividade, o medo, o desânimo e o desespero tomam conta do nosso coração. E tudo termina mal: pode ser o nosso casamento, o nosso ministério e, até mesmo, nossa experiência de fé.
É nesse embate entre o bem e o mal que está em nós que reside o mistério da conversão. Assim, entendemos quando Paulo diz: “O querer fazer o bem está em mim, mas quando quero fazer o bem encontro outra força que me faz fazer não o bem que prefiro, mas o mal que detesto”. E ele pergunta quem poderá nos livrar dessa realidade existencial. A resposta vem a seguir: “Graças a Deus por Jesus Cristo”. Sim, ele é o nosso Salvador e o nosso libertador.
A conversão começa quando entendemos e reconhecemos que forças destrutivas, irreversíveis e invencíveis agem no nosso coração, sabotando as nossas iniciativas de querer o certo e fazer o bem. Essas forças contrárias às virtudes de Cristo nos afastam de Deus – e, quanto mais longe estivermos dele, mais o pecado terá poder sobre nós. Todavia, o arrependimento e a fé em Cristo Jesus possibilitam uma vida virtuosa, que reverte a força do mal que atua em nós.
O arrependimento surge sempre aos pés da cruz, pois sabemos que foi pago um alto preço para nossa redenção. Quando reconhecemos nosso pecado e confiamos na salvação em Jesus, somos acolhidos no eterno amor da Trindade. E, então, desce de forma serena e suave o Espírito Santo, o Espírito de Cristo, e nossas virtudes – que eram subjugadas pelo mal – se reacendem com toda a sua força, pois o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, bondade e mansidão.
O convertido não é aquele que não peca mais, e sim, aquele que sabe que é um grande pecador e, por isso, vive quebrantado e dependente de Deus. Este é o mistério da conversão: um processo permanente de submissão ao Senhor para vencer as forças destrutivas em nosso coração, através do Espírito Santo.
Cristianismo de hoje
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