Silas diz não montar "igreja" nos seus times e faz sucesso com pastéis

Após dois anos no Oriente Médio, o técnico Silas decidiu retornar ao futebol brasileiro para tentar firmar de vez seu nome, que surgiu como um dos mais prestigiados do cenário nacional no começo da carreira e ficou longe dos holofotes nas últimas temporadas.

O treinador está à espera de propostas e diz que é necessário, muitas vezes, ter um estilo “paizão” para conduzir um elenco e compreender o jogador. Explicou que o fato de ser evangélico nunca atrapalhou nenhum de seus trabalhos e que não tem relação na condução do grupo.

Silas é evangélico desde o início da sua carreira como jogador e já teve essa questão levantada por alguns dirigentes anteriormente. Demonstrou naturalidade e disse que o tema só vem à tona e ganha relevância quando algum cartola de clube se posiciona, mas que em nada interfere nos trabalhos e tem dimensões desnecessárias para algumas pessoas.

“Isso mais me ajudou do que me atrapalhou na minha vida pessoal. Sou aquilo que sou, o que sempre fui. Sou a mesma pessoa. Me ajudou porque tenho casamento de 25 anos, três filhos. Se o clube me quiser assim, eu vou. Se não me quiser, não vou. Mas quando o clube quer o treinador, ser evangélico é bom. Se não quer, não é bom. O Duda Kroeff [ex-presidente do Grêmio] foi perguntado sobre isso quando eu fui pra lá. Ele falou que isso não era problema. Se ele falasse que tinha problema, isso seria visto como problema”, falou.

“Estou indo lá pra um clube ser técnico, comandar um time de futebol. Não vou como evangélico. O clube não é meu, não vou fazer igreja dentro de um clube, isso não existe” , continuou.
Silas trabalhou com técnicos disciplinadores, mas que tinham contato próximo do jogador na base de conselhos, como foi com Cilinho, nos tempos de São Paulo, e até Telê Santana, na seleção brasileira. “Treinador tem que ser também um pouco psicólogo, meio paizão do jogador, tem que ser assim em alguns casos. É saber que o cara tem que viver. Ele é jovem, tem que curtir a vida dele”, falou. Mas lembrou que tem de existir responsabilidade dentro disso. “Olhar o Neymar, não tem tempo. Ele é uma empresa.”
O ex-jogador da seleção brasileira nas Copas do Mundo de 1986 e 1990, Silas teve um período de ascensão no segundo ano de carreira ao subir o Avaí no Brasileiro de 2008 e no ano seguinte ser campeão catarinense, classificando a equipe para a Copa Sul-Americana.

Para a temporada seguinte, passou a ser um dos nomes mais cobiçados do futebol nacional e acertou com o Grêmio. No time gaúcho, foi campeão estadual e semifinalista da Copa do Brasil. Até que uma sequência de resultados ruins o derrubou. Ainda em 2010, passou pelo Flamengo rapidamente.

Mais uma volta para o Avaí em 2011 até se transferir para o Qatar, onde venceu dois títulos: da Copa do Sheik Jasim, em 2011, pelo Al Arabi, e da Copa do Emir, pelo Al Gharafa, em 2012. Silas chegou a ter propostas de Vitória e Criciúma, que disputarão a Série A do Brasileiro este ano, mas não acertou por questões burocráticas para deixar o Qatar naquele momento. Agora, vai analisar as ofertas e quer trabalhar em longo prazo e com planejamento.

“Não gosto de ficar pouco tempo nos clubes, mas pesa o fato de ser um treinador novo. Estou no meu sexto ano de carreira. Mas sempre procuro trabalho longo. Quer um lugar em que eu possa ter crédito. Tem que ser uma volta estratégica. Às vezes pode ser melhor um time da Série B com muita estrutura para subir do que um da Série A que vá cair”, explicou.

Pastelaria

A experiência de ver alguns dos ex-companheiros pouco preocupados com a vida pós futebol e o conselho de alguns treinadores fizeram Silas procurar formas de independência financeira paralelas à atividade de treinador.

O técnico é um dos donos da rede Papa Pastel, uma das maiores no ramo de salgadinhos e pastéis na cidade de Campinas, tendo lojas nos quatro shopping centers da cidade.

O negócio paralelo foi iniciado por um de seus cunhados, irmão de sua mulher. E hoje é administrado pelos dois e mais um dos sócios, também irmão de sua mulher. Ele conta que começou como uma ajuda ao cunhado para manter a loja, mas que todos mostraram trabalho e o empreendimento hoje ajuda muita gente da família.
“É uma situação que em princípio foi pra dar força ao meu cunhado, e hoje dá trabalho pra muita gente na família. Sempre escutamos essa história de não dar peixe e sim ensinar o cara a pescar. São verdades muito antigas. Através disso você não atrapalha, mas quando dá dinheiro você atrapalha, muito jogador faz isso, e acaba ruim pra ele também por não ter tido orientação. Mas isso dos pastéis acabou ajudando. Somos três sócios e ajudamos gente na família com trabalho”, comentou.

“Grande parte dos jogadores são despreparados para o fim de carreira. É só você ver quem se deu bem depois com outras coisas”, comentou.

Para se dar bem no ramo, Silas foi até aprender o processo de como se fazia a massa. Hoje eles terceirizam o produto, mas ele fez questão de conhecer pessoalmente a produção e até participar colocando a mão an massa.

“Eu aprendi o seguinte: quando você entende, a chance de dar certo é muito maior. Por isso nunca entrei em negócios como fazenda ou posto de gasolina. Quando entrei em pastelaria, tínhamos fabrica de massa em Valinhos. Ficávamos das 8h às 12h eu e meus dois cunhados na fábrica. Passávamos a manhã fazendo massa para aprender. Dá um prazer e satisfação”, lembra.
 

José Ricardo Leite
Do UOL, em São Paulo

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