Arqueólogo diz que há um erro histórico e acredita que foi em “outra Belém”
Todos os anos muitos cristãos de todo o mundo visitam Israel e querem conhecer o local onde Jesus Cristo nasceu. Em geral eles visitam a Igreja da Natividade, o local tradicionalmente apontado como o local do nascimento. Mas nem todos concordam com isso.
“A Igreja da Natividade foi construída em 326, quando o imperador Constantino decidiu que o cristianismo seria a religião oficial do Império Romano”, explica o professor Qustandi Shomali, da Bethlehem University. “É o lugar onde o cristianismo começou.”
Dentro da igreja, as colunas originais do século 4 ainda estão de pé. Conta-se que foi a rainha Helena, mãe de Constantino, que mandou construir a igreja. ”Os indícios que seja este o local onde Jesus nasceu remontam a meados do primeiro século,” disse Shomali.
No primeiro século, o imperador romano Adriano destruiu Belém. Depois de ter destruído a cidade, mandou construiu um templo e plantou um bosque sobre o local onde os peregrinos cristãos vinham para homenagear o lugar onde Jesus nasceu. “Na verdade, este templo em vez de destruir, preservou o lugar”, acrescentou Shomali.
O historiador Jerônimo escreveu em 396 d.C, “Mesmo aqueles que são estranhos à fé sabem que dentro daquela gruta nasceu o rei que é adorado e glorificado pelos cristãos.”
A entrada principal da Igreja da Natividade é chamada de Porta da Humildade, pois todos precisam se curvar para passar por ela. Foi originalmente construída pelos cruzados e alterada pelos otomanos, a fim de manter cavaleiros montados fora da igreja.
No lugar central dentro da gruta, uma estrela marca o local exato onde Cristo teria nascido. Os peregrinos costumam tocar a estrela e registrar em fotos o momento em que veem o local do nascimento de Jesus. Para muitos, é uma profunda experiência emocional e espiritual.
Outro evento registrado na Bíblia aconteceu depois que Jesus nasceu. Shomali fala sobre um aspecto pouco conhecido da Igreja da Natividade.
“Este é o lugar onde temos o túmulo dos filhos inocentes”, disse o professor. ”Herodes matou cerca de 6.000 crianças nessa região a fim de tentar eliminar Jesus, pois ele não queria um novo rei para substituí-lo.” Abaixo da igreja estão os ossos de algumas das crianças que teriam sido mortas por ordem de Herodes.
Mas os milhares de peregrinos que visitaram Belém todos estes anos foram ao lugar errado?
O arqueólogo israelense Aviram Oshri acredita que o nascimento foi numa cidade chamada Belém mais ao norte, perto de Nazaré, onde Jesus passou a infância.
Sua tese que questiona uma das mais antigas tradições cristã baseia-se em dados históricos, citações do Antigo e Novo Testamentos e mais de dez anos de escavações.
Oshri está convicto de que Jesus nasceu em Belém da Galileia, e não em Belém da Judeia, como é chamada pelos arqueólogos a cidade na Cisjordânia que atualmente faz parte da Autoridade Nacional Palestina.
O Evangelho de Mateus narra que Maria viajou em um burro de Nazaré, na Galileia, até Belém, onde Jesus nasceu. A distância de quase 100 km entre as cidades era enorme para a época.
“Se ela percorresse mesmo essa distância teria dado à luz muito antes. Faz muito mais sentido que a Belém do nascimento seja a da Galileia, que fica a apenas 7 km de Nazaré”, garante o arqueólogo.
Sua tese não é original. Ao longo da história muitos estudiosos questionam o local. Mas Oshri diz ter reunido indícios arqueológicos para provar esse “erro histórico”. Um de seus argumentos mais contundente é que em Belém da Judeia jamais foram encontrados sinais da Roma antiga.
Porém, em Belém da Galileia, Oshri achou diversos vestígios de atividade humana da época de Jesus. Entre eles, há restos de uma muralha que foi construída para proteger a recém-criada comunidade cristã.
Historiadores sugerem que os autores do Evangelho trocaram propositalmente as Beléns para associar Jesus ao rei Davi, que era da Judeia. Cristo era seu descendente, segundo as Escrituras.
Até 1948, Belém da Galileia foi habitada por uma comunidade do grupo religioso alemão dos templários. Após o estabelecimento do Estado de Israel, a aldeia tornou-se uma comunidade agrícola. Com cerca de 800 habitantes, hoje mais parece um condomínio de alta classe. São raros os vestígios de atividade arqueológica.
Em 2005, após divulgar sua tese, Oshri foi rebaixado de posto na Autoridade de Antiguidades de Israel. Ele busca financiamento para continuar as escavações e conseguir provar seu argumento.
Yossi Yeger, dono de um hotel em Belém da Galileia, diz que o boicote a Oshri faz parte de uma série de conspirações ao longo da história. “Se José nasceu em Nazaré e Maria em Belém, a 100 km de distância, como eles se conheceram, pelo Facebook?”, ironiza.
Com informações Folha e CBN