Quase todas as capitais possuem espaços
religiosos que reúne milhares de fieis
A inauguração da maior igreja católica do Brasil e possivelmente de todo o continente sul-americano, um projeto do padre Marcelo Rossi, reacende a discussão sobre as megaigrejas no país.
Os megatemplos, que se multiplicam especialmente nas grandes cidades, atraem multidões que só eram vistas em shows musicais e jogos de futebol. Elas podem ser vistas como monumentos que atestam o vigor do cristianismo brasileiro, em especial do segmento evangélico. Do ponto de vista social, refletem o grande desejo de participar que atrai as multidões de fiéis a cada culto ou missa.
Rossi, possivelmente o padre mais famoso do Brasil quer atrair cerca de 80 mil fieis para as missas na Igreja Theotokos (Mãe de Deus). A estrutura terá 500 banheiros e um estacionamento para milhares de carros e ônibus. Para efeito de comparação, atualmente o mais santuário católico brasileiro é a Basílica de Nossa Senhora Aparecida, com capacidade para 35 mil pessoas.
“Se Deus está presente onde duas ou três pessoas se reúnem em seu nome, como diz a Bíblia, a sua presença será ainda mais intensa quando se reunirem 30 mil, 50 mil, 100 mil”, afirma o padre cantor. “Os brasileiros precisam de grandes basílicas e catedrais, de lugares imensos para se reunir e rezar”, acredita.
Com o término do santuário “Mãe de Deus”, a Igreja Católica parece retomar a competição que trava no Brasil com as Igrejas pentecostais para ver quem reúne mais gente.
“Erguer uma igreja grandiosa é uma forma para se impor às outras denominações religiosas e demonstrar que somente aqui você encontra Deus”, explica Brenda Carranza, socióloga da PUC-Campinas.
Investimento caro
É difícil calcular o quanto de dinheiro está sendo investido nesse tipo de empreendimento. Calcula-se que o templo do padre Marcelo custou mais de R$ 50 milhões. A empreiteira Sobrosa está construindo o Templo do Rei Salomão, da Igreja Universal do Reino de Deus, ao custo aproximado de R$ 350 milhões.
A obra de 74 mil metros quadrados, e que só deverá ficar pronto em 2014, terá colunas com quase o dobro da altura do Cristo Redentor, capacidade para mais de 10 mil pessoas sentadas, vagas para 1,2 mil veículos e será totalmente revestido de pedras importadas de Israel.
A cidade de São Paulo já tem outros templos gigantes, como a sede nacional da Igreja Deus é Amor, com capacidade para receber mais de 60 mil pessoas (metade sentada). Perto dali, a Assembleia de Deus está construindo uma espécie de ginásio para abrigar cerca de 10 mil fieis por culto. A fachada de vidro promete ser o destaque do projeto, que deve servir também para a realização de convenções estaduais da denominação.
A cidade de Guarulhos, na Grande São Paulo, abriga a maior igreja evangélica do país, da Igreja Mundial do Reino de Deus, com capacidade para 150 mil pessoas. Mesmo assim, ainda perde para a Winners Chapel (Capela dos Vencedores) da Nigéria, com capacidade para 250 mil, considerado a maior igreja do mundo.
Brasil afora
Mas outros imponentes lugares de culto estão sendo construídos ou planejados para quase todas as capitais. O fato de o país viver um bom momento econômico tem influenciado esse tipo de investimento.
Por exemplo, em Recife, a Assembleia de Deus está construindo um templo capaz de reunir 30 mil pessoas. Em Belo Horizonte existe o projeto (para até 2014) da Catedral Cristo Rei, capaz de reunir 25 mil fieis católicos. Na mesma cidade, a igreja Batista de Lagoinha tem um projeto para um novo templo com capacidade para mais de 30 mil.
O “fenômeno” dos templos gigantes começou na década de 1970, nos Estados Unidos. No Brasil, começou uma década mais tarde, quando as igrejas evangélicas começaram a comprar cinemas desativados, com capacidade para até 2 mil pessoas. Na década de 1990, surgiram os primeiros espaços chamados de megaigrejas, como a Catedral Mundial da Fé, sede da Igreja Universal do Reino de Deus, no Rio de Janeiro, que abriga 15 mil fiéis.
Efeitos sobre a fé
Brenda Carranza, que é autora de um livro sobre cristianismo midiático entende que: “Com os megatemplos, a Igreja, seja evangélica ou católica, mostra de forma simbólica que não é um movimento religioso efêmero. E, depois, a fé cristã não existe para ser vivida apenas individualmente”.
Contudo, o sociólogo da religião, Ricardo Mariano, é categórico ao afirmar que essa estratégia pode fazer com que as pessoas percam o “senso de comunidade”. Uma das explicações para a Igreja Universal do Reino de Deus ter experimentado um decréscimo de cerca de 10% no número de adeptos nos últimos anos é que seus megatemplos e redes de TV desfavorecem uma “sociabilidade fraterna e comunitária”. As informações são de Folha de SP, Revista Época e Diário de Maringá.
GP
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