A filha mais velha tinha 9 anos e o mais novo, 20 dias de vida (Foto: BBC/Arquivo Pessoal)
Família se afogou em naufrágio de barco clandestino no Mar Egeu; apenas o pai sobreviveu.
A exemplo de milhares de sírios, Ali Alsaho queria apenas fugir para bem longe do grupo autodenominado Estado Islâmico e da guerra civil que deixou seu país em ruínas. Mas acabou vendo sua família inteira – mulher e sete filhos – se afogar durante a travessia do Mar Egeu, entre a Turquia e a Grécia.
O projeto deles era recomeçar a vida na Europa. A filha mais velha do casal tinha 9 anos de idade e o mais novo, apenas 20 dias de vida.
"Eu tirei minha família da Síria para escapar da matança. Meus filhos podiam ter tido um futuro na Europa. Agora perdi minha família, meu mundo", disse Alsaho ao correspondente da BBC na Turquia, Mark Lowen.
Desesperado com o aumento da violência por parte do Estado Islâmico, o refugiado havia decidido, ainda na Síria, entrar em contato com grupos que, em barcos precários, estão faturando com a travessia entre a cidade de Cesme, na Turquia, e a ilha de Chios, na Grécia.
Segundo o relato de Alsaho, os contrabandistas disseram antes da viagem que os passageiros não precisariam de coletes salva-vidas, pois o barco era seguro.
Logo após a embarcação deixar Cesme, porém, as ondas ficaram mais fortes, levando o motor a parar de funcionar. Em seguida, o barco virou.
Foram encontrados apenas os corpos de alguns dos filhos de Alsaho. Já não há mais esperanças de encontrar o resto da família com vida.
Segundo sírio, responsáveis pelos barcos disseram que coletes salva-vidas não eram necessários (Foto: BBC)
'Não venham'
Depois de perder a família, Alsaho agora aconselha as pessoas a não aceitarem fazer a viagem em barcos clandestinos.
"Não corram esse risco, não tentem ir pelo mar, vocês vão perder seus filhos. Os contrabandistas são traidores, eles dizem que podemos chegar à Grécia em 15 minutos", afirmou ele, que espera na Turquia a localização dos corpos.
"Meu conselho é: não venham. Fiquem na Síria, não importa o quanto seja difícil."
Os corpos da mulher e dos outros filhos de Alsaho ainda não foram localizados (Foto: BBC/Arquivo Pessoal)
A tragédia com a família de Alsaho é algo que tem se repetido na região. Nos últimos dez dias, ao menos 13 corpos de crianças foram encontrados em praias da Turquia.
Na rota entre Cesme e Chios, mais seis crianças morreram afogadas.
O refugiado está na Turquia, onde espera que os corpos restantes sejam encontrados (Foto: BBC)
O governo da Turquia está sendo pressionado para acabar com o tráfego de barcos clandestinos e precários transportando refugiados sírios.
Segundo o correspondente da BBC no país, mais de 3,5 mil pessoas já morreram neste ano tentando fazer a travessia para a Europa.
"A União Europeia está dando à Turquia dinheiro e recursos para patrulhar a fronteira e deter o fluxo (de refugiados). Mas, mesmo no inverno (no Hemisfério Norte), os mais desesperados continuam fazendo essa viagem perigosa", disse Lowen.
g1
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