Bandeira do orgulho LGBT é carregada pela Avenida Paulista durante a Parada Gay. (Foto: Miguel Schincariol/AFP)
Sob o tema “Independente de nossas crenças, nenhuma religião é lei. Todos e todas por um Estado laico”, o evento criticou a atuação da bancada evangélica no Congresso.
Com críticas à atuação da bancada evangélica no Congresso, a 21ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo aconteceu neste domingo (18) em São Paulo. A organização estimou um público de 3 milhões de pessoas. A Polícia Militar não divulgou números.
Sob o tema “Independente de nossas crenças, nenhuma religião é lei. Todos e todas por um Estado laico”, 19 trios elétricos realizaram um trajeto que começou na Avenida Paulista e desceu a Rua da Consolação, chegando ao Vale do Anhangabaú.
Nelson Matias, sócio-fundador da Associação da Parada do Orgulho LGBT, organizadora do evento, disse que a Parada Gay quis abranger não só a causa LGBT, mas também os direitos das religiões de matrizes africanas que, segundo ele, são ameaçadas pelo “fundamentalismo” que provém da atuação da bancada evangélica no Congresso.
“A religião não pode ocupar o espaço do Estado. Não podemos deixar que uma teocracia se instale no país”, alegou Matias em entrevista ao UOL.
Matias considera um retrocesso provocado pelos parlamentares evangélicos em Brasília o Estatuto da Família e a retirada da discussão de gênero no Plano Nacional de Educação. “Os direitos foram conquistados através do Judiciário, mas o Legislativo quer criar leis para anular essas conquistas”, argumenta.
A atriz e modelo Viviany Beleboni, de 28 anos, que em 2015 apareceu “crucificada” e em 2016 representou a Bíblia, apareceu neste ano com uma roupa militar. Ela afirma que sua atuação visava criticar o fundamentalismo religioso, o conservadorismo mundial e a falta de espaço para pessoas transexuais no Exército.
A transexual Viviany Beleboni causou polêmica há 2 anos ao sair crucificada. (Foto: Luis Cleber/Estadão Conteúdo)
As bandeiras “Fora Temer” e “Diretas Já” também estavam presentes em discursos realizados nos trios elétricos. “Nossos direitos estão sob ameaça com este governo golpista”, afirmou Matias.
Para ele, a retirada pelo MEC (Ministério da Educação) da homofobia da lista de preconceitos a serem combatidos na educação mostra a força da bancada evangélica junto ao governo Temer.
Com a ausência de João Dória (PSDB) no evento, a Prefeitura de São Paulo investiu aproximadamente R$ 1,5 milhão em sua infraestrutura. A quantia é a mesma disponibilizada para a edição do ano passado, segundo a gestão.
O Estado laico não se opõe à religião
No Brasil, pouco mais de 85% da população se declara cristã — cerca de 166 milhões de pessoas se declaram católicas ou evangélicas, representando a grande maioria dos brasileiros.
Mesmo com suas diferenças, os parlamentares de bancadas católica e evangélica atuam juntos no Congresso em defesa de suas bandeiras, como propostas que vão contra a união civil entre homossexuais, criminalização da homofobia, abortos legais, entre dezenas de outros.
Embora o discurso da Parada Gay seja em favor de um Estado laico, onde as leis não são regidas pela religião, foi ignorado o real conceito da laicidade, onde o poder do Estado não apoia e nem se opõe a nenhuma crença.
Participante da Parada Gay critica a atuação de evangélicos no Congresso. (Foto: Kevin David/A7 Press/Estadão Conteúdo)
“Laicidade não significa ateísmo”, esclarece o pastor Magno Paganelli. “Estado laico é aquele que não advoga em favor de uma religião, mas não pode impedir a coexistência de todas as religiões. A democracia pressupõe a pluralidade e a boa convivência na diversidade”.
Além disso, o pastor defende que laico é o Estado, não as instituições e os indivíduos. “Assim, uma Universidade, uma igreja, um partido político etc., podem defender suas ideologias e princípios dentro de um espaço democrático, protegidos e amparados por força da Lei. Não é crime uma instituição defender seus princípios; aliás, nenhuma instituição existe sem que haja princípios a nortear suas ações. Criticar a confissão de uma ideologia ou crença é totalitarismo, não democracia”, ele avalia.
Guiame
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