Campanha do Último Idioma pretende iniciar a tradução das Sagradas Escrituras para
todas as línguas até 2025.
Desde a Septuaginta, tradução da Torá hebraica para o grego, realizada por volta do 3º século antes de Cristo, nenhum outro livro foi tão traduzido, publicado e disponibilizado à humanidade quanto a Bíblia. Ao longo da História, a Palavra de Deus já foi traduzida, no todo ou em parte, para línguas faladas em todas as latitudes da Terra. De idiomas globais, como o inglês e o espanhol, a dialetos falados por pequenas tribos com não mais de algumas centenas de indivíduos, as Sagradas Escrituras estão hoje acessíveis a mais de 90% da humanidade, numa linguagem que podem entender. No entanto, ainda há muito por fazer. Estima-se em cerca de 4 mil as línguas e dialetos hoje existentes em que não há sequer um livro da Bíblia traduzido. Fazer a Palavra de Deus chegar aos falantes desses idiomas – quase 350 milhões de pessoas – é um desafio fundamental para que se cumpram as profecias bíblicas que condicionam o segundo advento de Cristo à disseminação do Evangelho por toda a Terra.
O primeiro passo já foi dado. Lançada em 2008, a Campanha do Último Idioma – Visão 2025 pretende que, até aquele ano, tenham sido iniciados trabalhos de tradução bíblica em cada uma das línguas em que ela ainda é inédita. O esforço, orçado em mais de US$ 1 bilhão (cerca de 1,8 bilhões de reais) é capitaneado pela Aliança Global Wycliffe, entidade internacional de tradução da Bíblia que congrega mais de 100 organizações em todo o mundo (ver quadro). Uma de suas parceiras na empreitada é a Sociedade Internacional de Linguística (SIL), tradicional organização cristã fundada em 1934 e que já realizou investigações científicas acerca de 2,6 mil línguas. E, passado três anos do início dessa mobilização, fica claro que não se trata de uma missão impossível. De acordo com Paul Edwards, diretor executivo da campanha, muitos passos já foram dados nesta direção. “Estamos no nosso melhor ano de todos em número de traduções já iniciadas”, garante. “Deus irá nos fornecer pessoas capacitadas e recursos para, finalmente, terminar esse esforço de mais de 2 mil anos.”
Os números recentes alimentam o otimismo. Em 1999, a própria Wycliffe fez uma estimativa segundo a qual seriam necessários cerca de 150 anos até que a última tradução fosse iniciada. Apenas dez anos depois, quinhentas traduções já estavam em andamento, a um ritmo médio de setenta e cinco novos idiomas por ano. E a tendência é o aumento gradativo na produtividade e abrangência do trabalho. Edwards credita o avanço às modernas tecnologias e a novas abordagens para a tradução da Bíblia, mesmo que para idiomas que não possuem forma escrita – as chamadas línguas ágrafas, como as faladas pelos indígenas brasileiros (ver quadro na seção CH Informa, na página 7 desta edição). Softwares de última geração permitem que os tradutores consigam analisar com precisão as particularidades de cada idioma, facilitando o trabalho de elaboração escrita. Além disso, a tecnologia representou o fim do penoso trabalho com papel e caneta, feito muitas vezes em regiões remotas, que necessitavam de transporte físico até centros mais avançados para, só aí, serem catalogados. Agora, um estudioso que esteja embrenhado na selva pode enviar textos para análise e tradução a partir de laptops, com comunicação via satélite. “É extraordinário esse ganho de tempo”, entusiasma-se Edwards.
MOBILIZAÇÃO INTERNACIONAL
A Campanha do Último Idioma, na verdade, não é apenas um esforço de natureza religiosa. É, também, uma iniciativa que visa a levar a povos isolados, muitas vezes vivendo em condições semelhantes às da Idade da Pedra, projetos de saúde e desenvolvimento comunitário. Para isso, estão sendo formadas equipes multidisciplinares, contando com a maior quantidade possível de integrantes autóctones. Ao contrário de outros tempos, em que a presença do chamado “homem civilizado” representava o fim das traduções culturais locais e a imposição de um estilo de vida ocidental, hoje o trabalho é feito com rigores antropológicos. O objetivo é oferecer ferramentas para que cada indivíduo, seja em qual cultura for, possa conscientemente fazer sua escolha pessoal em relação ao Evangelho, sem abrir mão do próprio modo de vida.
A Wycliffe também está usando uma nova abordagem, com tradução com equipes de grupos de tradução de línguas semelhantes ao mesmo tempo. Assim, é possível trabalhar com até uma dúzia de idiomas semelhantes, oriundas do mesmo tronco – como o italiano, o português e o espanhol, todas neolatinas – ao mesmo tempo. Outra inovação é não usar a cronologia para determinar o ponto de partida de tradução. Em vez disso, as equipes traduzem as histórias do Novo Testamento, que podem então ser rapidamente compartilhadas por contadores de história orais com os falantes daquele idioma. “Com uma mobilização adequada da Igreja, informações sobre as necessidades, engajamento do povo de Deus e muitas parcerias, é perfeitamente possível alocar uma equipe de tradutores em cada uma dessas línguas até o ano 2025”, atesta o pastor José Carlos Alcantara da Silva, secretário executivo da Associação Linguística Evangélica Missionária (Alem). A instituição atua no Brasil promovendo treinamento em linguística e missiologia e realiza traduções das Escrituras para idiomas indígenas (ver entrevista na pág ??). No momento, um de seus principais projetos é a Bíblia completa na língua kaiuá, falada por um dos maiores povos indígenas do país, que deve estar pronta em três anos.
“Qualquer projeto da Wycliffe, referência mundial para a tradução da Bíblia em todos os idiomas conhecidos, será sempre muito bem recebido pelo povo de Deus em todas as partes do mundo”, elogia, por sua vez, Almir dos Santos Gonçalves Jr, da Junta de Educação Religiosa e Publicações, entidade ligada à Imprensa Bíblica Brasileira e que já distribuiu mais de 20 milhões de exemplares no país. Com larga experiência na área, o professor Vilson Scholz, doutor em Novo Testamento e consultor de traduções da Sociedade Bíblica do Brasil (SBB), destaca a essencialidade desse trabalho na evangelização mundial: “Se nós valorizamos – e muito – o fato de podermos ouvir a palavra de Deus em nossa língua materna, por que não admitir que o mesmo vale para cada ser humano, mesmo que faça parte de menor comunidade linguística deste mundo?”, questiona.
Para Rudi Zimmer, brasileiro que preside a Diretoria Mundial das Sociedades Bíblicas Unidas (SBU) – entidade que congrega cerca de 150 associações nacionais voltadas à tradução, produção e distribuição das Escrituras em todo o mundo –, o esforço concentrado para disponibilizar conteúdos bíblicos em todas as línguas é o coração do trabalho missionário: “Só a partir da tradução pode-se levar a Palavra de Deus a todas as pessoas no mundo”, diz. Segundo ele, embora as SBU não tenham adotado especificamente a Visão 2025, a tendência é no sentido do maior envolvimento local no trabalho de tradução “Portanto, caberá às sociedades bíblicas nacionais a liderança nos projetos e na provisão de recursos”. Zimmer informa que as SBU estão promovendo consultas de âmbito mundial para definir estratégias orientadoras desse trabalho para as próximas décadas. “Por outro lado, estamos cientes de que a imensidão da tarefa exige a cooperação de todas as agências de tradução; por isso buscamos, sempre que for possível, fazer alianças, a fim de multiplicar os resultados”, conclui.
O ministério da tradução
Desde 1º de fevereiro deste ano, a Wycliffe Internacional, com sede em Cingapura, adotou novo nome: Aliança Global Wycliffe. A iniciativa visa fazer uma adequação aos novos tempos, em que qualquer atividade pode ser melhor desempenhada mediante parcerias, bem de acordo com o lema da entidade – “Parceiros na tradução da Bíblia”. Atualmente, cerca de 105 organizações internacionais, inclusive no Brasil – como a Associação Lingústica Evangélica Missionária (ALEM) e a Associação Internacional de Linguística no Brasil (SIL), entre outras –, são ligadas à Aliança Wycliffe, que conta com pessoal proveniente de mais de 50 países e envolve cerca de 6,5 mil pessoas em organizações parceiras de todo o mundo. Mais informações sobre a Campanha do Último Idioma e notícias sobre o que o ministério de tradução bíblica tem feito no Brasil e no mundo podem ser obtidas pelos sites www.wycliffe.net/Home/tabid/37/language/pt-BR , www.sil.org/americas/brasil ou www.thewordislife.net/Home/tabid/37/language/pt (todos em português)
“A Igreja brasileira tem muito a contribuir”
O pastor José Carlos Alcantara da Silva, secretário-executivo da Associação Linguística Evangélica Missionária (ALEM), conversou com CRISTIANISMO HOJE sobre o desafio da tradução bíblica. Segundo ele, a Igreja brasileira, com todo seu dinamismo e recursos, tem muito a fazer por este tipo de ministério:
CRISTIANISMO HOJE – Qual é o tempo que se leva para traduzir a Bíblia para um outro idioma?
JOSÉ CARLOS ALCANTARA – O tempo médio para se concluir uma tradução depende do contexto e de outras variantes. Se a língua para a qual a Bíblia vai ser traduzida é um idioma que já foi analisado e já possui uma grafia, a tradução será feita em tempo menor. Caso contrário, o tradutor terá que fazer uma análise linguística, estabelecer um alfabeto e só então começara a traduzir. Temos casos de traduções que duraram 40 anos de trabalho e outras que foram feitas em até uma década – sobretudo, quando já existe uma tradução em língua próxima, da mesma família, ou porque a análise linguística já estava pronta.
Entidades como a ALEM contam com a colaboração de igrejas, instituições e organizações missionárias?
Contamos com algumas parcerias que têm contribuído significativamente para o avanço do trabalho de tradução no Brasil. Há igrejas que amam a Palavra de Deus e entendem o valor e significado das Escrituras Sagradas para a evangelização do mundo e o alcance do coração das pessoas. Elas nos apoiam de maneira prática, sustentando missionários tradutores, orando e até arcando com os custos de impressão de bíblias nas línguas autóctones. Também há colaboração entre organizações missionárias que entendem o valor da Bíblia na língua materna de cada povo. Organizações como a Associação Internacional de Linguística (SIL), Missão Evangélica da Amazônia (MEVA), Missão Novas Tribos do Brasil, Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira, Junta de Missões Nacionais da Convenção Batista Nacional e Aliança Global Wycliffe, dentre outras, são entidades que têm trabalhado juntas para que os povos do Brasil e no mundo tenham a Bíblia na língua que lhes fala ao coração. Por sua vez, o trabalho da Sociedade Bíblica do Brasil tem sido altamente relevante na parte técnica de diagramação e impressão das bíblias traduzidas pelas organizações parceiras.
Quantas pessoas, no contexto da Igreja brasileira,
estão envolvidas com este tipo de trabalho?
A Igreja brasileira ainda tem muito a contribuir com o movimento de tradução da Bíblia no Brasil e no mundo. Proporcionalmente, o número de missionários brasileiros que trabalham em campos transculturais é muito pequeno – eles não passam de quatro mil – em relação ao número de igrejas e de cristãos evangélicos no país. Se pensarmos em tradutores da Bíblia, este número será reduzido a algumas dezenas. Se a Igreja brasileira entender que tem uma grande oportunidade de servir a mais de 2 mil povos, proporcionando a eles a Palavra de Deus e todas as ações provenientes dela e se engajar neste movimento de tradução como uma tarefa sua, e não de terceiros, dará uma grande contribuição para a consumação da obra de Deus no mundo.
Por Carlos Fernandes
Oi meu caro!! Acabei de ler seu comentário no blog crucificadocomcristo, e você deve saber como é gratificante perceber que sempre tem um leitor para participar!!!
ResponderExcluirJá estou seguindo o blog;
Deus te abençoe e fortifique!