Antes de tudo, devemos informar nesse artigo que a notícia de que o Papa Francisco teria consolado um garotinho que havia acabado de perder seu cão, dizendo que todos os animais vão para o céu, é falsa.
O que correu o mundo foi que ele teria dito “O paraíso está aberto a todas as criaturas de Deus”. Mas ele não disse nada disso.Grandes e sérios sites de notícias do mundo inteiro repassaram a informação sem se certificar se ela era mesmo verdadeira. O The New York Times, por exemplo, publicou a matéria com o dado falso, mas no dia seguinte atualizou a notícia reconhecendo o erro.
Na realidade, foi tudo um mal entendido, pois existe sim uma versão dessa citação que foi proferida por um Papa. Porém, isso aconteceu há décadas atrás, sendo dito por Paulo VI (que morreu em 1978) a um menino durante o seu papado. Não há nenhuma evidência de que Francisco repetiu as palavras durante a audiência pública em 26 de novembro, como tem sido amplamente relatado, nem mesmo estava lá um menino de luto por seu cãozinho morto. O que levou aos boatos foi que o tema da audiência naquele dia se centrava no Fim dos Tempos e na transformação de toda a criação em um novo céu e uma nova Terra.
Segundo o site Crux, o Papa Francisco citou São Paulo, do Novo Testamento, dizendo que não é “a aniquilação do cosmos e de tudo o que nos rodeia, mas a propositura de todas as coisas para a plenitude do ser".
O tema desencadeou uma extensão do assunto proposta pelo periódico italiano Quotidiano, supondo se uma criação renovada leva a questão de saber se os animais também vão para o céu.
A disseminação do boato
Então o periódico afirmou que o Papa teria falado “um dia vamos ver nossos animais de estimação na eternidade de Cristo", citando como frase de Paulo VI quando consolou um menino anos atrás e não de Francisco. O problema é que o título só constava como “Paraíso para os animais? O Papa não descarta isso”, sem especificar qual Papa era.
E daí para a história que o Papa Francisco teria dito sobre os animais no céu foi um pulo. No dia seguinte, 27 de novembro, o Corriere della Sera deu a manchete: “O Papa e os animais de estimação: ‘o paraíso está aberto a todas as criaturas’”. E então, a notícia se espalhou pelo mundo como se Papa Francisco tivesse falado sobre os animais no céu.
Na correção, o New York Times explica que o Papa apenas teria dito: “a Sagrada Escritura nos ensina que a realização deste projeto maravilhoso também afeta tudo ao nosso redor”. Por outro lado, em 1990, o Papa João Paulo II disse que os animais têm alma. Como se vê, não existe um acordo sobre essa questão na Igreja Católica. E como isso é tratado nas outras religiões?
O céu e os animais em outras crenças
De acordo com um artigo de Adam Epstein, do Quartz, os mórmons, por exemplo, têm uma posição esclarecida sobre o assunto, declarando que obviamente os animais podem ir para o céu. Já o islamismo não tem nenhuma resposta muito clara sobre o tema. Segundo o Islã, todas as almas são eternas, o que pode se incluir aí as dos animais.
A questão é que, para chegar ao paraíso (Jannah), todos os seres devem ser julgados por Deus (Allah) no dia do juízo final e alguns estudiosos muçulmanos dizem que os animais não são julgados da mesma forma como os seres humanos. Já outros dizem que eles são julgados, mas não há um conceito sobre o que exatamente acontece com eles depois.
E como será que é na religião de Buda? Bem, o budismo diz que entre os reinos um ser pode renascer, sendo que existem vários "céus", embora eles não sejam lugares permanentes. Eventualmente, o ciclo começa novamente e se renasce em outro lugar e isso continua até o Nirvana.
A religião budista também vê os animais como sencientes assim como os seres humanos, ou seja, são capazes de sofrer ou sentir prazer e felicidade. Dessa forma, o budismo diz que os seres humanos podem ainda renascer como animais e os bichos também podem renascer como humanos. Portanto, para eles, a questão se os animais vão ou não para o céu não se aplica, pois os bichos e os seres humanos já estão todos interligados de certa forma.
Hinduísmo e judaísmo
Ainda segundo o artigo do Quartz, o hinduísmo também descreve um tipo de reencarnação, em que a alma eterna de um ser renasce em um plano diferente após a morte, continuando esse processo até que a alma seja libertada. Para os hindus, os animais têm alma, mas a maioria dos estudiosos diz que elas evoluem para o plano humano durante o processo de reencarnação.
Então, assim como na religião budista, no hinduísmo os animais são uma parte do mesmo ciclo de “vida-morte-renascimento” que os seres humanos, mas em algum momento eles deixam de ser animais e suas almas entram em corpos humanos para que possam estar mais perto de Deus.
No judaísmo, não há um conceito claro sobre se o céu ou o inferno existem. Há vários lugares mencionados nos textos judaicos que parecem ter semelhança com eles, mas são difíceis de analisar. Por essa mesma razão, não há uma visão clara do judaísmo sobre se os animais vão ou não para alguns desses lugares. Alguns rabinos dizem que sim, outros dizem que não.
No entanto, o curioso é que o judaísmo afirma claramente que os animais têm alma. Os judeus mantêm a sua forma de alimentação chamada kosher, em que certos tipos de bichos não são autorizados para consumo como porco, coelho, caranguejo, camarão e também sangue de nenhum tipo, nem em carnes mal passadas. Eles acreditam que o sangue representa a essência do ser.
Por isso, nos animais que são permitidos, é necessário um ritual específico de abate para que ele possa ser consumido pelos judeus. No entanto, não há um consenso sobre o que é uma "alma" animal e se é tão importante ou tão divina quanto uma alma humana.
Fonte(s) Adam Epstein/Quartz/Crux/MEGACURIOSO
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