Igrejas evangélicas do Brasil vivem crise econômica

Teologia da Prosperidade está em xeque
Estima-se que o Brasil tenha cerca de 50 milhões de evangélicos. O mercado gospel que supre as demandas desse público está dando indícios de viver uma crise financeira que reflete o momento pelo qual passa o país, que vê chegar a 12 milhões o número de desempregados.

Mesmo com a saída de Dilma, cujas políticas equivocadas geraram o mau momento econômico, os problemas devem persistir. Especialistas já apontaram que será necessário quase uma década para reparar os estragos deixados pela administração dela.

O demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, especialista em religiões, explica que a renda per capita do Brasil caiu, em média, 10%. “A perda de poder aquisitivo das classes C e D com certeza afetou as igrejas, sobretudo aquelas muito comerciais. As menos voltadas para a arrecadação podem até ter recebido mais fiéis, em busca de alívio para suas dificuldades”, analisa.

Isso coloca em xeque a Teologia da Prosperidade, adotada por um número crescente de igrejas no país. Ela prega que quanto mais o fiel ofertar a Deus, mais bênçãos receberá. O paradoxo está no fato de que, mesmo anunciando isso há décadas, ministérios conhecidos por defendê-la experimentam um declínio nas arrecadações de dízimos e ofertas.

A revista Veja fez um levantamento e constatou que, no último ano e meio, a queda de receita chega a 40% em alguns segmentos de produtos e serviços voltados para os evangélicos. O processo de declínio se acelerou em meados de 2015.

Um dos primeiros a se manifestar sobre o assunto, no ano passado, foi o pastor Silas Malafaia, líder do Ministério Vitória em Cristo: “Tive que demitir cem pessoas, quase 10% do total que emprego. Também pisei no freio na inauguração de novos templos”.

Sua denominação pretendia inaugurar em 2016 mais quinze igrejas pelo Brasil. Por causa da diminuição de arrecadação, apenas oito ficarão prontas. O templo de 20 milhões de reais para 6 000 pessoas em São Paulo, principal desafio do momento, corre risco de atrasar. “Meu desejo era inaugurá-lo em quatorze meses. Agora vai depender da economia e entrada de recursos”, resume.

O missionário R.R. Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, também está construindo um templo milionário em São Paulo. O reflexo da crise atingiu sua Faculdade do Povo, fundada em 2009 por uma associação ligada à Graça. Ela oferecia cursos na área de comunicação para 430 alunos, mas acabou fechando as portas.

Destoam desse cenário as igrejas de estados onde a base da economia é o agronegócio. Segundo o bispo Robson Rodovalho, fundador da Sara Nossa Terra, Goiás, Mato Grosso do Sul e interior de Minas Gerais, as coisas não mudaram tanto. “Já onde a economia depende da indústria, como São Paulo, tudo despencou. Em Pernambuco, a operação Lava-Jato causou grande estrago”, explica.

Um dos motivos para isso foram os milhares de desempregados da refinaria Abreu e Lima, obra paralisada por causa das investigações sobre propinas.
A Sara admite que precisou dispensar 250 funcionários (15% do efetivo com carteira assinada) e cortar despesas. Dos 1 400 templos da Sara Nossa Terra, 400 funcionam em sede própria. Os demais negociaram a redução do valor dos aluguéis em cerca de 20%.

Livros e discos

O mercado de música gospel, que parecia se manter firme enquanto todo o setor fonográfico brasileiro acumula prejuízos com discos e CDs físicos desde os anos 90, agora dá sinais de ter perdido a força. Nos últimos dezoito meses, o segmento que já movimentou 1,5 bilhão de reais por ano, sucumbiu à crise.

“As vendas caíram 50% este ano e tive que reduzir pela metade o meu pessoal”, lamenta Arolde de Oliveira fundador da MK Music, maior gravadora gospel do país. Ele conhece bem as causas da crise, pois é deputado federal pelo DEM do Rio de Janeiro. Oliveira acrescenta que a diminuição dos patrocínios afetou diretamente os shows de música que reúnem milhares de pessoas. Por exemplo, o Louvorzão, realizado tradicionalmente no Rio, foi cancelado em abril.

O bispo Rodovalho, que também é cantor conta que precisou mudar sua agenda. “Também aumentei o número de shows. Estou fazendo até três por fim de semana, para tentar compensar os prejuízos.”

A editora Central Gospel, do ministério Vitória em Cristo precisou demitir 40% do seu quadro de funcionários, num processo de “readequação”. Malafaia desabafa: “É lamentável. As pessoas não estão consumindo. Estão ficando desempregadas e, como outras empresas, sentimos a crise. O sol se levanta e a chuva cai para o justo e o injusto. Veio para todos”.

A Thomas Nelson, a maior editora de livros evangélicos do país, vinha experimentando um aumento anual médio nas vendas de 30% até 2015. Mas este ano despencou, devendo terminar 2016 com apenas 5% de crescimento. “Felizmente, temos um público cativo”, comemora o publisher Omar Souza.

Menos pregação na TV
A TV talvez seja a maior vitrine de como a crise atingiu as igrejas. A redução das doações se traduz em menos horas no ar. Valdemiro Santiago, da Igreja Mundial do Poder de Deus, vem perdendo espaço na telinha há anos.

Em meados de agosto encerrou o contrato de um canal que mantinha na NET por cerca de 3 milhões de reais por mês. “A audiência não estava valendo o custo”, sublinha o deputado estadual Milton Rangel (DEM), ligado a Santiago.

Silas Malafaia também cortou os programas que exibia na Rede TV! Rodovalho adiou a expansão da sua TV, a Rede Gênesis, para o litoral paulista. O único que não dá sinal visível de ter sido afetado é Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, que vem experimentando crescimento da rede Record, de sua propriedade.



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