“Quanto a ti, ó filho do homem, os filhos do teu povo falam de ti junto às paredes e nas portas das casas; e fala um com o outro, cada um a seu irmão, dizendo: Vinde, peço-vos, e ouvi qual seja a palavra que procede do SENHOR.
E eles vêm a ti, como o povo costumava vir, e se assentam diante de ti, como meu povo, e ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra; pois lisonjeiam com a sua boca, mas o seu coração segue a sua avareza.
E eis que tu és para eles como uma canção de amores, de quem tem voz suave, e que bem tange; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra” (Ez 33. 30-32).
Desde a antiguidade Deus deseja que o homem tenha plena comunhão com Ele, e saiba sobre a Sua vontade e aquilo que vai dentro do Seu coração. Para isso, na Antiga Aliança, Ele usou como instrumento vários profetas para falar ao Seu povo, visto que apenas alguns grupos de pessoas possuíam o Espírito Santo sobre eles, tais como: os reis, os profetas e sacerdotes. A Bíblia nos relata sobre a forma como Deus comunicava Sua vontade ao homem em Hebreus 1.1:
“Havendo Deus, antigamente, falado muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos, nestes últimos dias, pelo Filho”.
Hoje, como nos afirma o texto supracitado, o Pai Celeste nos fala por meio do Filho, “o verbo que se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1. 14), ou seja, Sua própria Palavra. Daí a enorme importância de conhecermos intimamente a Palavra de Deus, não apenas como um livro religioso ou teológico, mas como a “Palavra Viva e eficaz” (Hb 4. 12).
Na Nova Aliança, através do sangue de Jesus, o salvo tem o Espírito Santo habitando dentro do seu espírito, que o capacita a compreender a revelação da Palavra, pois “a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2 Co 3.6b).
O profeta Ezequiel, durante seu ministério, encontrou dificuldades em transmitir a vontade de Deus ao Seu povo. Aparentemente se mostravam muito interessados em ouvir o recado Dele; assentavam diante do profeta, comportando-se como “povo de Deus”, ouviam as palavras, mas, não as punham por obra; ou seja, as palavras entravam por um ouvido e saíam por outro. E essa atitude displicente do povo deixava o Senhor muito decepcionado.
A princípio devemos diferenciar os termos escutar e ouvir. Escutar implica em possuir o sentido da audição preservado, saudável, e captar com nitidez os sons do ambiente através dos ouvidos. Ouvir vai um pouco mais além; implica em escutar com os ouvidos e dar atenção com o coração.
Muitos escutam muitas coisas, adquirem muitas informações, mas precisam transformar em suas mentes e corações essas mesmas informações em conhecimento. Conhecimento é empírico, passa pelo experimento; por isso Deus diz a Ezequiel que o povo escuta as palavras, mas não as põe por obra (Ez 33.32).
Infelizmente hoje não é muito diferente. Muitos têm tido oportunidade de ano após ano escutar pregações ou ler suas próprias Bíblias, mas a quantidade de audição ou leitura da Palavra não tem sido capaz de promover crescimento espiritual. Mas qual será a razão? O problema está na Palavra ou no homem? Logicamente que no homem.
Muitos ministérios têm se ocupado em ensinar as Escrituras, seja em suas Escolas Bíblicas ou sermões do púlpito, mas não têm estimulado suas ovelhas a pô-LA em ação de fato. A mensagem parece distante, histórica, pouco prático para o dia-a-dia.
Nota-se que muitos pastores têm profundo conhecimento teológico ou humano, mas, por vivenciarem pouco as questões espirituais não as conseguem transmitir com verdade às ovelhas. Nisso percebemos a importância da pregação na unção do Espírito Santo, caso contrário, será apenas exposição de letra morta, que não promoverá transformação de vida.
A bíblia é um livro vivo, espiritual. Ela própria declara que “a exposição às tuas palavras dá luz e entendimento aos simples” (Sl 119. 130). O Senhor Jesus afirmou para o diabo, citando Deuteronômio 8. 3, que “nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (Mt 4. 4). Assim como o pão material é o alimento para o corpo, a Palavra de Deus é o alimento para o espírito. Através dEla Deus fala ao espírito do homem.
Hoje encontramos muitos crentes “raquíticos” espirituais. O crescimento espiritual parou, estagnou-se. Consequentemente tornaram-se infrutíferos para o Reino de Deus. Vivem pedindo oração aos outros. Não conseguem extrair da Palavra aquilo que as fará operantes e vencedoras. Jesus ensinou: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço e as fará maiores do que estas, porque eu vou para o meu pai” (Jo 14. 12). Infelizmente alguns simplesmente ignoram essa declaração do Senhor, como se Ele tivesse usando figura de retórica.
A única condição para realizar as mesmas obras que Jesus fazia é CRER. Ele deixou muito claro. Quem escuta as palavras Dele, mas não as pratica, ou seja, as ouve, é como “surdo espiritual”.
O escritor Tiago chama A Palavra de Deus de “a lei perfeita da liberdade”. Que coisa linda! A Palavra de Deus é perfeita, e aqueles que vivem
por Ela são livres do mal e do pecado. Mas é preciso pô-LA em prática: “Aquele, porém, que atenta bem para a lei perfeita da liberdade e nisso persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas fazedor da obra, esse tal será bem-aventurado no seu feito” (Tg 1. 25).
Precisamos nos apaixonar pela Palavra do Pai e vive-la. Temos de ser praticantes da Palavra, não somente ouvintes esquecidos. Por Ela somos fortalecidos, adquirimos sabedoria espiritual para enfrentarmos as adversidades da vida e sairmos vencedores. Ela ilumina o nosso caminho, nos livrando de desviarmos para algum caminho de trevas. Por Ela somos orientados por Deus para sermos verdadeiros discípulos de Jesus.
Muito se tem falado em discipulado nas igrejas. Mas será que todos realmente têm sido discípulos do Mestre ou se trata de modismo passageiro? O discípulo aprende com seu mestre e o imita. O apóstolo João em sua primeira carta escreve como deve ser a atitude daqueles que dizem estar em Jesus: “Aquele que diz que está Nele também deve andar como ele andou” (1 Jo 2. 6).
E como sabermos como Jesus Cristo andou, para que possamos imitá-LO? “Como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude; o qual andou fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com Ele” (At 10. 38).
Temos feito o bem, ou seja, contado “as Boas Novas” do Reino de Deus, e que Jesus já providenciou tudo que precisávamos para sermos livres das ações do diabo? Temos testemunhado com a nossa vida, ou temos apenas pregado por palavras? Temos orado com fé pelos enfermos, crendo realmente que Jesus já providenciou a cura para todas as enfermidades através de Suas feridas (Is 53. 4, 5 e 1 Pd 2. 24)? Temos libertado os oprimidos do diabo, em Nome de Jesus (Mc 16. 17)? Se temos preferido relegar a outros essa incumbência dada pelo Mestre Jesus, então não podemos afirmar que somos seus discípulos.
Se desejarmos ser vistos pelo Pai como “obreiros aprovados” (2 Tm 2. 15), ou seja, aqueles que põem por obra Sua Palavra, então devemos fazer uma análise sobre como tem sido nossa atitude frente à Palavra de Deus. Se temos sido ouvinte esquecidos estaremos em desvantagem na luta contra o império das trevas. A Palavra é arma de ataque nessa guerra. Ela é chamada “a espada do Espírito” (Ef 6. 17). Ela no coração e com fé em nossos lábios desfaz todo engenho do diabo.
Que o Espírito Santo transforme as informações aqui contidas em conhecimento de vida eterna. Amém!
Por Mônica Valentim
Guiame