“Trans-modernidade”

É tudo uma questão de afirmar o que se é por aquilo que se é, e não pelo que se deseja ser.
O atleta transexual Tiffany Abreu quebrou o recorde de pontos numa única partida da Superliga de Vôlei feminino na última terça-feira (30/01). Ele marcou 39 pontos, superando o recorde da jogadora Tandara que era de 37 pontos. O feito reacende o debate sobre a questão ideológica x a questão fisiológica envolvendo modalidades esportivas femininas que, recentemente, estão recebendo atletas trans.

A questão de gênero ganhou muita força nesta década. E isto, a meu ver, se dá, principalmente porque o governo anterior fez uso dos maiores meios de influência social (sistema educacional, legislativo e midiático) para tornar hegemônico o pensamento dentro de uma cosmovisão que possui uma representatividade minoritária no país. As pessoas não perceberam, mas desde a vitória de um gay que tinha mestrado em Letras e Linguística no ridículo programa BBB (e até antes disso), bem como sua eleição para a cadeira de deputado federal em 2010 por meio de um dispositivo falho da jovem democracia brasileira (o cargo foi assumido devido à expressiva votação obtida por seu companheiro de partido), o cenário da voz pela “igualdade” na sociedade vem ganhando novos recortes.

Não, não queremos dar a honra do protagonismo político ao ex-BBB em todo este processo, apenas estou citando um dos exemplos de um fenômeno que ganhou muita força após a última eleição federal, onde ele e outros políticos que defendem a mesma pauta saíram vitoriosos nas urnas. O que eles não contavam era com o impeachment da presidenta Dilma, onde todo um movimento de esquerda brasileiro, de mais de uma década, começou a ruir. Ou eles leram Gramsci erroneamente ou uma nova esperança para o imaginário coletivo nacional pousou em solo brasileiro.

No entanto, a situação do establishment me parece inalterada atualmente, mesmo após o governo centro-direita do “golpista” ou do “ex-companheiro”. A TV, a internet, o Congresso, a Câmara e todos os demais veículos de comunicação – seja oral, seja escrita – continuam imprimindo violência contra o conceito ou a cosmovisão judaico-cristã, que prevê um engodo existencial contido na prática homo ou transexual e que prescreve a realidade biológica como prevalente na vida e na sexualidade do ser humano.

Creio que o anseio do imaginário homo ou trans-afetivo deve ser não combatido fisicamente (o que incorre num legítimo crime de homo ou transfobia), mas, sim, por meios epistemológicos. Não devemos debater o assunto construindo ou tentando construir um ideal sobre a realidade, devemos encaminhar um debate que afirme a realidade: o aspecto bio-fisiológico precisa se sobrepor ao contingente ideológico e político.

O que estamos vendo na Superliga Feminina de Vôlei é o ultraje do óbvio: uma pessoa humana biologicamente superior quebrando um recorde numa modalidade esportiva onde sua força física vai [necessariamente] favorece-la sobre todas as suas adversárias mulheres – o que podemos entender que é algo que mancha historicamente o esporte.

Entenda bem: não sou contra o indivíduo humano. Meu desejo é que o atleta conheça o Deus que pode lhe dar vida eterna. Somente afirmo que, por razões epistêmicas, genéticas e teleológicas, o caso Tiffany representa uma desconstrução moral e existencial no todo da sociedade brasileira, tornando uma cosmovisão minoritária “senhora ou governante” sobre outra cosmovisão que é majoritária na sociedade brasileira – e tudo isso comprovando a necessidade de que a Igreja melhore a qualidade do seu ministério de discipulado, para que os nossos jovens não sejam consumidos por esta agenda que em nada glorifica a Deus ou coaduna com os preceitos escriturísticos.

A cosmovisão cristã prevê o gênero estabelecido pela ordem criacional e não por um construto social. Somos um povo que reconhece a heterossexualidade como uma manifestação legítima da sexualidade humana desde o Gênesis, enquanto que as outras projeções apenas refletem uma consciência que quer se libertar da opinião alheia caindo na escravidão da própria construção afetiva pessoal. Tais pessoas sofrem muito sim porque são mal vistas por grande parte da sociedade; contudo, estão buscando a cada dia mais representatividade e aceitação sem antes considerar as implicações gerais de suas escolhas.

Veja bem: podemos escolher sobre muitas questões. Podemos escolher livremente sobre coisas (carro, casa, roupa, ferramentas, alimentos etc.); porém, sabemos que, quando o assunto envolve a pessoalidade, sempre existem as restrições. Naturalmente, não posso me casar com uma criança ou com um animal de estimação, assim como não posso dizer que uma fruta cítrica é doce; não posso determinar metafisicamente para fora daquilo que realmente é – uma maçã é uma maçã, o fogo é o fogo e um notebook é um notebook. A Queda trouxe degenerações na volição humana e até mesmo [em alguns casos] em sua formação biológica; porém, é razoável compreendermos que a maior parte das coisas são como são.

É tudo uma questão de afirmar o que se é por aquilo que se é, e não pelo que se deseja ser.

Tiffany pode até querer se sentir mulher, e ter o respeito das pessoas em sua liberdade de escolha. Só não podemos desconsiderar o outro – principalmente quando o outro se chama Deus. Num esporte de alto rendimento físico como o vôlei, a estrutura óssea, energética e fisiológica faz toda a diferença – e se isso não for considerado pelo COI, teremos em breve uma substituição ainda mais significativa de jogadoras por atletas trans.

O futuro nos dirá o que vem por aí. Minha esperança permanece no poder do evangelho, que é capaz de convencer homens, mulheres, gays e trans de suas condições pecaminosas e ímpias e que, no poder do Espírito, estes podem sim encontrar a vida no Crucificado e um renovo e uma ressignificação da própria existência, metafisicamente longe do pecado e bem perto da graça de Deus.



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