Cada vez mais as pessoas religiosas parecem ser mal vistas na sociedade europeia, em grande parte indiferente à fé. Seja com acusações de antissemitismo, cristianofobia, islamofobia ou blasfêmia, alguns países, como a França, parecem estar diante de uma encruzilhada, que pode alterar os rumos e o seu futuro.
Antigamente as reclamações de perseguição eram comuns apenas entre judeus. Agora, os católicos também têm procurado fazer sua voz ser ouvida. Eles irão realizar dia 9 de novembro em Paris, um encontro para debater o tema “O cristianismo ainda tem lugar na Europa?”.
A iniciativa é da organização Aide à l’Eglise en Détresse [Ajuda à Igreja que Sofre], que é reconhecida pelo Vaticano e se dispõe a apoiar os cristãos perseguidos, especialmente em países de maioria muçulmana. Esse dia de reflexão pretende mostrar ao mundo “as discriminações sofridas por cristãos e a rejeição do cristianismo em toda Europa, onde a fé cristã e a Igreja são constantemente ridicularizadas ou ostracizadas”.
O diretor da organização Marc Fromager, afirma que esta é uma tentativa de promover a liberdade religiosa. Para ele, a Europa está renegando sua cultura e sua história. “A cristianofobia também toca ao Ocidente”.
Recentemente denunciado pelo papa, o risco de “marginalização do cristianismo” no Velho Continente resultou na criação de um “Observatório Europeu da Intolerância e da Discriminação contra os Cristãos. Seu propósito é chamar a atenção para a “proibição de símbolos religiosos em espaços públicos, e combater os estereótipos negativos na mídia”. Não são apenas judeus e muçulmanos que percebem ter seu direito de crer ameaçados.
O antropólogo das religiões Malek Chebel afirma que no século 21, não faltam hipóteses para explicar as atitudes assumidas por grupos religiosos há algum tempo. Seu desejo, explica ele, é estabelecer “fronteiras ‘intransponíveis’ e responder todo ataque com um contragolpe”.
Recentemente a França teve mostras claras desse processo. Católicos revoltarem-se e protestaram durante vários dias contra um espetáculo teatral em Paris que sujava a face de Cristo. Depois de ter anunciado uma edição com a imagem do profeta Maomé na capa, o jornal Charlie Hebdo teve seu escritório incendiado e seu site invadido “em nome de Alá”.
“A reabilitação dessa noção de blasfêmia pode parecer anacrônica para os não religiosos, um grupo cada vez mais numeroso. Porém, historicamente o blasfemo era necessariamente um fiel”, explica Olivier Bobineau, sociólogo das religiões. “Hoje, denunciar uma blasfêmia é apenas um meio para que os religiosos lembrem-se da importância do sagrado”.
Mas e quando a motivação tem razões erradas ou duvidosas? Os muçulmanos são enfáticos em alegar que a representação do profeta do Islã é uma ofensa, uma blasfêmia. “Não está escrito em nenhum lugar do Alcorão que essa representação é proibida”, lembra Chebel, que também é tradutor do Alcorão. Para ele, todo grito de blasfêmia também é “um grito de adesão das pessoas que se sentem diminuídas ou amaldiçoadas”.
O padre Herve-Pierre Grosjean provocou um debate acirrado na blogosfera católica, ao comentar os protestos contra a peça Sobre o conceito do rosto do Filho de Deus. Ele escreveu “Tendo se tornado agora uma minoria na sociedade francesa, os católicos não aceitam mais sofrer diante de um denegrimento que era suportável quando eles eram maioria”.
A comunidade muçulmana também está inquieta. O Coletivo contra a Islamofobia na França (CCIF) realizou um congresso que reuniu centenas de pessoas dia 30 de outubro. O seu objetivo declarado era “decretar um estado de emergência perante os recentes atos islamofóbicos”. O Conselho Francês do Culto Muçulmano anunciou para dezembro um balanço desses atos e pretende continuar denunciando regularmente o “clima antimuçulmano” que vive a Europa.
Traduzido e Adaptado por Gospel Prime de Islamophobia e Le Monde
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