A história sobre o embate é bastante complexa, e o enfoque muda drasticamente dependendo de quem está contando sua versão dos fatos. Ambos os envolvidos — muçulmanos de origem árabe que ocupam a Faixa de Gaza e os judeus israelenses — têm razões de sobra para justificar suas atitudes, assim como a hostilidade que sentem um pelo outro, como você verá na síntese a seguir. Assim, confira uma breve explicação que ajudará você a entender melhor a atual guerra que está acontecendo na Palestina:
Criação do Estado Judeu
Antes de tudo, é importante ressaltar que a Palestina já era habitada por judeus — remanescentes de incontáveis invasões históricas — há milênios, e nos últimos séculos havia sido ocupada por uma maioria árabe. Além disso, apesar de árabes e israelenses terem a mesma origem étnica, para que o contexto fique mais claro, devemos lembrar que os judeus sofreram diversas perseguições e não possuíam um estado próprio.
Assim, no final do século 19, um grupo de judeus de origem europeia — os sionistas — empenhado em criar uma pátria judia, após considerar regiões nas Américas e na África, decidiu colonizar a Palestina. No início, a imigração não causou maiores problemas com os povos que viviam ali. Contudo, com o passar do tempo, a chegada de imigrantes na região foi se intensificando, com muitos desses sionistas expressando seus desejos de “tomar” o território.
Tensões
Naturalmente, essa situação foi criando tensões com os palestinos que ocupavam a região, e foi apenas uma questão de tempo até que os conflitos começassem. Para piorar, Adolf Hitler surgiu no meio dessa história — e o Holocausto — e isso, combinado aos esforços dos sionistas em evitar que os judeus refugiados fossem enviados a países ocidentais, só aumentou o fluxo de judeus para a Palestina. E a tensão foi aumentando progressivamente.
Em vista da escalada da violência na região, em 1947 a ONU resolveu interferir e, em 1948, o Estado de Israel foi criado. Assim, sob considerável pressão dos sionistas, a organização recomendou que 55% da Palestina — que então era controlada pelos britânicos — fosse cedida aos judeus, embora esse grupo representasse apenas 30% da população total e possuísse menos de 7% do território. E, então... guerra.
Guerra civil
Evidentemente, os palestinos não ficaram muito satisfeitos com as recomendações da ONU, e logo uma série de atentados, represálias e contrarrepresálias começou a deixar um rastro de violência e morte sem que ninguém tivesse controle sobre a situação. Foi então que vários regimentos do Exército de Liberação Árabe resolveram interferir, e praticamente todas as batalhas ocorreram em solo destinado aos palestinos.
Contudo, os árabes perderam a guerra e, ao final do conflito, Israel havia conquistado 78% da Palestina, com 750 mil palestinos se tornando refugiados. Além disso, 500 cidades e vilarejos foram destruídos e um novo mapa da região foi criado, no qual cada rio, localidade e morro foi rebatizado com um nome hebreu, apagando qualquer vestígio da cultura palestina.
A tormentosa Faixa de Gaza
O conflito na Faixa de Gaza existe desde o final da década de 60, quando Israel venceu a Guerra dos Seis Dias. O enfrentamento teve origem quando as forças israelenses lançaram um ataque surpresa contra uma coalisão árabe formada por Egito, Jordânia, Síria e Iraque. Nessa ocasião, Israel conquistou os restantes 22% do território palestino que restavam, ou seja, a Península do Sinai, Cisjordânia, Altos de Golan, o leste de Jerusalém e a Faixa de Gaza.
No entanto, de acordo com as leis internacionais, é inadmissível que um território seja “adquirido” por meio de guerras. Portanto, para os palestinos, essas áreas não deveriam pertencer a Israel, e por isso eles seguem ali defendendo seu espaço. Durante a Guerra dos Seis Dias, partes do Egito e da Síria também foram ocupadas, sendo que os territórios egípcios foram “devolvidos” desde então, e os que pertenciam aos sírios continuam sob ocupação israelense.
Democracia Liberal
Os sionistas formam um pequeno grupo extremista e fundamentalista que acredita que os fatos presentes no Velho Testamento são absolutamente inquestionáveis e servem de prova que Israel e os territórios ocupados pertencem por direito aos judeus. Portanto, a única solução seria que os palestinos negassem todas as suas reivindicações de propriedade de uma vez por todas.
Israel, entretanto, é uma democracia liberal que durante muitos anos foi regida por governos de coalisão e, evidentemente, essas visões tão radicais sempre tenderam a refletir a opinião de uma pequena minoria. O problema é que nos últimos anos esses grupos ultrarreligiosos foram ganhando cada vez mais influência, e atualmente controlam as questões relacionadas com a política externa de Israel.
Batalha contínua
Segundo o acordo de Oslo — firmado em 1993 —, esses territórios ocupados deveriam ter sido evacuados e reconhecidos como palestinos. Mas a demora no cumprimento das ordens gerou uma onda de ataques terroristas em Israel e o assassinato de Yitzhak Rabin, primeiro ministro israelense que arquitetou o acordo.
Com isso, a tensão voltou a se aumentar e no ano 2000, Ariel Sharon, o então ministro de defesa israelense, resolveu fazer uma visita ao bairro muçulmano de Jerusalém, criando um sentimento de revolta no mundo árabe, e a “Intifada” teve início. Nos anos subsequentes, Sharon trabalhou ativamente para conseguir uma trégua, mas em 2006, após sofrer um aneurisma e entrar em coma, as negociações de paz foram fortemente afetadas.
Existem dois motivos primários no centro dessa briga toda: a população que ocupava a palestina era composta por 96% de muçulmanos e cristãos que hoje são proibidos de regressar aos seus lares, e os que vivem dentro do Estado judeu sofrem com a discriminação sistemática. Além disso, a ocupação israelense e o controle na Faixa de Gaza são extremamente opressivos, e os palestinos que vivem ali têm bem pouco direito sobre suas próprias vidas.
Além disso, as forças de Israel controlam as fronteiras palestinas — incluindo as internas — e muitas vezes a distribuição de alimentos e medicamentos é bloqueada, assim como energia elétrica, água, moeda e meios de comunicação, piorando a crise humanitária
Se você tem acompanhado as últimas notícias sobre as batalhas entre palestinos e israelenses, deve ter ouvido bastante sobre o “Hamas”. Esse grupo consiste em uma organização política islâmica fundada em 1987 que, desde que foi eleito democraticamente em 2007, governa a Faixa de Gaza. Seus militantes são acusados de investir contra Israel através de ataques terroristas e bombardeios com o objetivo de reinstaurar o Estado Palestino.
Além disso, o Hamas também é acusado de ser um grupo terrorista que não reconhece a existência do Estado de Israel, que vem fortalecendo seu arsenal e usa endereços residenciais para esconder suas armas e militantes. A batalha que estamos testemunhando agora teve início depois de Israel responsabilizar categoricamente o Hamas pelo sequestro e assassinato de três jovens israelenses em junho, resultando no envio de tropas a Gaza e na prisão de centenas de ativistas do Hamas.
Após a acusação, um rapaz palestino também foi sequestrado e queimado vivo em Jerusalém. Seis suspeitos judeus foram presos em Israel, e três confessaram o crime. O Hamas, no entanto, não assumiu nem negou sua participação nas mortes dos garotos israelenses. Contudo, o grupo respondeu à prisão dos militantes e à morte do jovem palestino com o lançamento de foguetes, atraindo ataques aéreos de Israel como represália.
E agora?
Um problema com a Faixa de Gaza é que esse território conta com uma superfície de 360 quilômetros quadrados e uma população de aproximadamente 1,5 milhão de habitantes. Isso significa que se trata de uma área densamente povoada — mais de 4 mil hab./km2. Então, imagine o estrago quando uma bomba cai por lá. Portanto, qualquer ofensiva aérea em Gaza inevitavelmente vai resultar na morte de civis. Porém, a questão é ainda mais grave.
Apesar de o Hamas estar respondendo aos ataques israelenses, Israel conta com uma infraestrutura defensiva extremamente moderna e muito superior à palestina, capaz de evitar que os foguetes do Hamas atinjam seus alvos. Assim, em nove dias de combates, o número de mortos é estimado em 230 na Faixa de Gaza — além de mais de 1,6 mil feridos —, enquanto apenas uma vítima fatal foi registrada no lado israelense.
Toda essa questão relacionada com as mortes dos adolescentes, na verdade, parece estar servindo como justificativa tanto para Israel como para o Hamas. Os israelenses, por um lado, poderiam aproveitar a situação para finalmente dominar o que resta do território palestino e torná-lo parte de Israel. Já o Hamas, por outro lado, se perder a Faixa de Gaza para os israelenses, perde seu poder e se torna uma organização política irrelevante na região.
Cessar-fogo?
Parece que autoridades israelenses e palestinas haviam fechado um acordo proposto pelo Egito de cessar-fogo que deveria ter início amanhã pela manhã. Apesar disso, tudo indica que o compromisso não será respeitado, pois existem notícias de que o primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu, teria ordenado a invasão da Faixa de Gaza de por terra.
Assim, uma coisa é certa: infelizmente os conflitos estão bem longe de terminar, e quem mais sofre com isso é a população civil. Quem sabe o que falta neste conflito sejam líderes em ambos os lados que entendam que a violência apenas serve para perpetuar e motivar ainda mais violência. Existem grupos tanto em Israel como na Faixa de Gaza que trabalham juntos para encontrar uma saída para a crise, e esse talvez esse seja um bom ponto de partida.
Fonte MegaCurioso