O outro gêmeo não resistiu ao procedimento cirúrgico, considerado um dos mais complexos da Medicina
O Garotinho Heitor Brandão recebeu alta no final da manhã desta terça-feira (27) após 92 dias de recuperação no Hospital Estadual Materno Infantil, onde foi submetido a uma cirurgia para ser separado de seu irmão, Arthur, que não sobreviveu à intervenção, uma das cirurgias mais complexas da Medicina moderna.
Acompanhado dos pais e dos irmãos Leonardo, 21, e Cecília, 7, Heitor, de 6 anos – ainda que um pouco assustado com o assédio da imprensa - foi abraçado e aplaudido pela equipe de médicos e outros profissionais que cuidaram dele e do irmão nos últimos seis anos.
Em uma rápida coletiva ao sair do Hospital, ele indicou que estava feliz e que queria, a partir de agora, ir para a escola. Confessou que está com saudade do restante da família, que mora na Bahia. “Da minha tia, dos meus primos”, disse.
Chefe da equipe médica, o cirurgião Zacharias Calil diz que Heitor está com todas as funções normais. “Ele vai ter uma vida normal para criança da idade dele. É claro que ele apresenta suas limitações físicas, mas o estado geral, a cabeça dele, seu quadro neurológico psiquiátrico é excelente”, disse.
Heitor não tem o ânus, nem a bexiga, e tem apenas uma das perninhas e metade da bacia. Segundo o médico, o garoto se locomoverá com cadeira de rodas por enquanto, mas daqui a um ou dois anos poderá colocar uma prótese. Ele precisará fazer fisioterapia.
Calil, que acompanhou os gêmeos desde o nascimento, declara que a sensação ao ver Heitor deixando do Hospital é aliviadora. “Ele passou por situações críticas, nós também acompanhamos de perto. Foram situações terríveis, teve momentos que eu achei que ele não ia sobreviver”, confessou.
“Pena que o Arthur não conseguiu, mas fizemos de tudo, nós lutamos, chegamos ao nosso limite, como eles chegaram no limite deles. Então o Heitor é uma lição de vida para todos”, relatou. “Ele conseguiu superar e agora é vida nova”, contou ainda, sobre o trauma do garoto em relação à morte do irmãozinho.
O pai do menino, Delson Brandão, diz que ver o filho saindo do hospital é um momento de alegria. “Para mim é uma emoção indescritível, porque eu tenho certeza de que ele está muito bem e a gente vai poder cuidar dele em casa”, descreveu.
O professor se emocionou muito e chorou ao recordar os anos de luta enfrentados pela família – desde que as crianças nasceram - na busca pela separação dos filhos e ao lembrar também do outro gêmeo, Arthur, que não sobreviveu à cirurgia. “A gente fez o que era para ser feito. Saio (daqui) com o sentimento de dever cumprido com eles”.
”Eu só quero cuidar dele, lhe dar a vida mais normal possível, poder levar para a escola, passear como a gente sempre sonhou”, disse Brandão. “Infelizmente Arthur não está com ele, mas faz parte da vida, não é? (...) A gente vai continuar porque a vida não para, nem para Arthur parou, se ele não está aqui, está em outro local”, acrescentou, emocionado.
A mãe, a também professora Eliana Brandão, confessou que estava dividida entre a alegria de ver Heitor recuperado e a tristeza de não levar o outro filho, Arthur, para casa. “É uma mistura de sentimentos que estou vivendo, de dever cumprido, de alegria em saber que Heitor está aqui, e está saindo bem.
Hoje também é um momento triste para a gente, está fazendo três meses da partida do meu anjinho, mas eu sei que ele está feliz, está emanando vibrações positivas para a gente, principalmente para Heitor.
A gente está saindo feliz”, declarou. Eliana sabe que a etapa mais difícil foi vencida, mas ainda aguarda novos desafios. “Terão muitas outras etapas daqui para a frente, que a gente vai vencer, com fé em Deus”.
Apesar da alta de Heitor, a família, que mora na Bahia, ainda vai permanecer na Casa do Interior, mantida pelo governo estadual, pelo menos por mais quinze dias, para que Heitor receba novos curativos a cada dois dias. A equipe do Hospital Materno Infantil fará o trabalho na própria casa, para evitar o deslocamento da criança.
Aliás, a família fez questão de fazer uma deferência especial a toda a equipe que cuidou das crianças e ao Doutor Zacharias Calil. “Ele é um anjo em nossas vidas, que nos devolveu a esperança de que a gente pudesse chegar onde nós chegamos”, disse.
Sobre a vida da família e de Heitor de agora em diante, Eliana declarou: “Além de estudar e brincar, o que Heitor mais deseja é voltar para casa. É um desejo simples para muitos, mas para a gente é muito significativo, porque são seis anos fora de casa, longe da família, e agora a gente vai ter a oportunidade de estar todo mundo junto”, finalizou.
Para acompanhar os filhos na estadia em Goiânia, ela teve que deixar até o emprego na escola estadual da cidade de Riacho de Santana, na Bahia, a 720 Km de Salvador.
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