Julgamento da pena de morte da cristã Asia Bibi é adiado pela 6ª vez, no Paquistão

Asia Bibi (à direita) foi condenada à morte em 2009, pelo crime de blasfêmia, mas seu caso tem se arrastado por anos e chegou ao Supremo Tribunal do Paquistão. (Foto: Reuters)

Organizações cristãs afirmam que os juízes estão com medo de absolver a cristã, por causa da violência promovida pelos extremistas islâmicos.

O julgamento do apelo final da cristã Asia Bibi, que pode ser condenada à morte, devido a uma acusação de blasfêmia no Paquistão foi adiado nesta quinta-feira (13). A audiência estava agendada para a próxima sexta-feira (14), mas agora ela terá que aguardar por tempo indeterminado no chamado corredor da morte.

O juiz do Supremo Tribunal do Paquistão, Iqbal Hameed ur Rehman retirou-se do caso, porque ele também tinha supervisionado o apelo de Mumtaz Qadri - um homem pelo assassinato do governador de Punjab, Salman Taseer, em 2011. Ao confessar o crime, Qadri disse que matou o governante, justamente por causa do apoio que o político deu à cristã.

"Eu fiz parte da banca que estava ouvindo o caso de Salmaan Taseer, caso que tem relação com este julgamento", disse o juiz Rehman ao tribunal em Islamabad.

Ele não especificou uma nova data para a audiência e Bibi foi levada de volta para a cadeia.

Mas então, o que acontece a seguir?

Contexto
Bibi foi presa pela primeira vez em 2009 e condenada à morte em novembro do ano seguinte por supostamente ter blasfemado contra o profeta Maomé, durante uma discussão com colegas de trabalho em uma lavoura, no Paquistão.

Depois que seus colegas se recusaram a beber no mesmo usado por Bibi, simplesmente pelo fato dela ser cristã e, portanto, considerada "impura", ela teria respondido: "Eu acredito em Jesus Cristo, que morreu na cruz pelos pecados da humanidade. O que o seu Profeta Maomé já fez para salvar a humanidade?".

Posteriormente ela foi levada à presença de um juiz e condenada por blasfêmia - acusação essa que ela tem consistentemente negado. 
No ano passado, Bibi foi transferida para o confinamento solitário em uma prisão da região de Multan, leste do Paquistão. A trasnferência se deu por temores de que ela poderia ser atacada pelos próprios vigilantes da primeira penitenciária e também recebeu a permissão de cozinhar sua própria comida, para evitar que fosse envenenada.

Andrew Boyd da organização cristã 'Release International', disse nesta quinta-feira, logo após o julgamento do apelo de Bibi ser adiado, que é pouco provável que este caso avance rapidamente.

"Ela está lá [no corredor da morte] há seis anos", disse ele ao Christian Today.

O seu caso de 'blasfêmia' é considerado o de mais alto nível no Paquistão - sem dúvida o mais famoso que o país já viu. Mais de 1.300 pessoas foram acusadas de blasfêmia no Paquistão desde 1987, um número desproporcional dentre esses era de cristãos, mas o caso de Bibi tem atraído a atenção de todo o mundo, com chamadas internacionais, pedindo a sua libertação e o fim das leis de blasfêmia do Paquistão.

No Paquistão, no entanto, radicais muçulmanos clamam desesperadamente para que Bibi seja enforcada.

Paquistaneses protestam contra as leis de blasfêmia, em seu país. (Foto: Reuters)


Violência
Um grupo de 150 principais clérigos muçulmanos do grupo islâmico radical sunita 'Tehreek' emitiu uma declaração, exigindo que o governo execute Bibi e todos os outros prisioneiros, acusados de blasfêmia, segundo informações da organização cristã 'World Watch Monitor'. Os líderes muçulmanos teriam lançado um "decreto verbal", para que qualquer pessoa que resgatasse ou desse assistência no resgate de pessoas acusadas de blasfêmia também fosse executada.

Também nesta quinta-feira (13), o clérigo da Mesquita Vermelha em Lahore disse que iria emitir uma 'fatwa' (pronunciamento oficial islâmico) contra o primeiro-ministro do país, se Asia Bibi fosse absolvida da pena de morte.

A razão exata para o juiz esperar até hoje para declarar que haveria um conflito de interesses que já era conhecido anteriormente não é clara.

"O que nós sabemos", disse Boyd, "é que não há um clima forte de intimidação [no Paquistão]". Mais de 100 policiais estavam estacionados ao redor do tribunal esta manhã para tentar conter a violência, para os quais há precedentes no Paquistão. Além do assassinato de Taseer, o ministro de Assuntos Minoritários Shahbaz Bhatti também foi morto em 2011, também por ter defendido Bibi.


Perseguição religiosa
Mais de 60 pessoas associadas com casos de blasfêmia foram assassinadas nos últimos anos, disse Boyd.

"Há um clima de vigilância, no qual muitos [extremistas islâmicos] acreditam que matar um blasfemo é um dever religioso. Se o tribunal não o fizer, eles mesmos vão fazer", afirmou.

O representante cristão explicou que nesse contexto de tensão, é preciso muita coragem para se envolver em um caso de blasfêmia. Em audiências anteriores e julgamentos dos recursos no caso de Bibi, extremistas islâmicos lotaram os tribunais, em uma tentativa de intimidar o juiz para defender a sentença de morte. Dessa forma, o caso acabou chegando ao Supremo Tribunal. Nenhum juiz anulou a condenação, que ativistas dizem que é provavelmente - pelo menos em parte - por causa de ameaças à sua própria vida por islamitas.

"Os juízes estão sendo assustados, o que está impedindo-os de conduzir este caso de forma adequada", disse Boyd ao Christian Today.

"Acredita-se que este atraso seja completamente artificial", acrescentou ele, atribuindo a abstenção do juiz nesta quinta-feira ao crescente clima de extremismo islâmico no Paquistão.

Se não for possível que o tribunal encontre um juiz disposto a assumir o caso, disse Boyd, o Presidente do Paquistão deve emitir um perdão imediato absolver Bibi. Mas isso vai ser difícil, dado o rápido crescimento do islamismo no país.

Extremista islâmico segura cartaz em manifestação pública, com a frase "Estamos com você, Mumtaz Qadri", declarando apoio ao assassino do governador de Punjab. (Foto: Reuters)

Desgaste
Anteriormente, o julgamento apelo de Bibi Suprema Corte de Lahore já havia sido foi adiada cinco vezes e manteve-se uma lacuna de cerca de um mês e meio entre cada data adiada, conforme lembrou Wilson Chowdhry, da Associação Cristã Britânico-Paquistanesa. Ele pediu que o Supremo Tribunal informe imediatamente a nova data para o julgamento final do apelo de Asia Bibi.

"Quanto mais tempo neste caso se arrastar na Justiça, mais oportunidades serão dadas aos extremistas para que eles façam mais barulho e reunam mais pessoas contra Asia Bibi", alertou.

Toda vez que seu caso foi adiado anteriormente, "isto inflamou os muçulmanos, porque eles sentiram como se estivessem ganhando mais tempo", acrescentou. "Sem dúvida, haverá um acúmulo no número de extremistas que pedem o sangue dessa mulher".

"Eu estou orando para que o processo legal no Paquistão seja acelerado... Asia Bibi é apenas uma vítima inocente, haverá muitos outros, até que o Paquistão reveja as suas leis", disse Chowdhry.

Guiame

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