Preso pela Polícia Federal, terrorista ligado ao Estado Islâmico é ex-ateu e ex-cristão

O detido se radicalizou pela internet e chegou a ser banido das orações
para muçulmanos (mussala), por suas declarações radicais e apologia
ao Estado Islâmico.

Andrade (o primeiro à esquerda) e sua esposa são casados há
dois anos. Ele fazia bicos em João Pessoa e nunca se fixou em
nenhum emprego. (Foto: Reprodução/Facebook).
Na última quinta-feira (21), a Polícia Federal fez a “Operação Hashtag” que prendeu 12 pessoas suspeitas de planejar um atentado terrorista durante a Olimpíada, no Rio de Janeiro. A operação secreta foi executada pela Divisão Antiterrorismo da Polícia Federal contra o grupo que está sendo considerado a maior ameaça aos Jogos.

Um desses presos foi um homem de 34 anos chamado Antonio (Ahmed) Andrade dos Santos Junior. Ele é um ex-cristão e ex-ateu que se radicalizou pela internet e chegou a ser banido da mussala - uma espécie de sala de oração para muçulmanos - por suas declarações radicais e apologia ao Estado Islâmico. Foi lá onde ele teve o primeiro contato com o Islã, em João Pessoa, na Paraíba.

Andrade é pai de um menino de nove meses, fruto do casamento arranjado com uma brasileira que também chegou a adotar o Islã. O homem também tinha problemas com a família por seu radicalismo. Em uma foto tirada no Egito, ele aparece ao lado de outro preso, o paulista Vitor Magalhães , ao lado de uma bandeira negra do grupo terrorista. Andrade e Vitor viajaram juntos ao Cairo, entre 2013 e 2014, onde passaram seis meses estudando religião em uma universidade particular.

Quando ele regressou para o Brasil, passou a defender abertamente o EI, de acordo com as pessoas próximas a ele. Mas já teria se radicalizado, pouco antes da viagem, por meio de contatos via internet, após se "reverter" - termo utilizado pelos muçulmanos para designar a conversão ao islã - em uma mussala de João Pessoa, da qual foi banido mais tarde, por suas posições extremistas.


De ex-ateu a defensor do Estado Islâmico

De acordo com o Estadão, a mussala funciona dentro de uma academia de boxe, na periferia de João Pessoa, a Associação Beneficente Esportiva Muçulmana Mesquita's Brothers, que pertence ao ex-campeão Muhammad Al Mesquita. Andrade, que já havia sido cristão, treinou boxe no local durante oito anos, antes de se "converter" ao Islã.

"Ele ficou aqui como aluno por oito anos e chegou a competir. Eu praticamente o criei. Era um menino muito bom. Eu falava a ele sobre religião, mas ele ria. Era completamente ateu. Um dia, ele me pediu para se reverter. Eu disse a ele que ele precisava estudar mais o Islã, antes disso. Nos tivemos muitas conversas. Uma noite, bem tarde, ele me ligou e disse que estava pronto. Então, ele fez a shahada (declaração de conversão ao Islã)", relata Muhammad Al Mesquita.

"Só que, depois disso, ele começou a mudar muito. Ele passou a seguir pessoas na internet, a ler textos que não eram bons. Eu dizia para ele: 'Ahmed, cuidado.' Ele começou a ter pensamento próprio. Então, um dia, eu o proibi de voltar à academia e à mussala. Um dia ele me ligou e eu pedi a ele que não me procurasse mais, se ainda tivesse aquelas ideias. Eu descobri que ele não era do bem, não era grato pelo que fiz por ele", disse.

Segundo Muhammad, ele havia recebido a visita de agentes da Polícia Federal três vezes em sua academia. Andrade parecia revoltado após ser banido da mussala. Ele foi procurar o Centro Islâmico de João Pessoa, fundado por João (de Deus) Cabral, ex-pastor evangélico que adotou o Islã em 2008. O jovem frequentou a mussala por cerca de três anos, mas Cabral começou a ficar preocupado com a conduta de Andrade.

Por mais que o líder religioso o aconselhasse, Andrade se afastou depois de certo tempo. "Nunca mais conversei com ele. Exatamente por conta dessas ideias", disse Cabral que hoje mora em Dubai.

Andrade e sua esposa são casados há dois anos. Ele fazia bicos em João Pessoa e nunca se fixou em nenhum emprego. Chegou a mudar para São Paulo e trabalhar com refugiados em uma ONG da comunidade islâmica. Ele teve sua página no Facebook bloqueada várias vezes por incitação à violência e manteve o blog "Por que deixei o cristianismo e me converti ao Islã".


Fonte: GuiaMe

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